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Criança e Adolescente
Adolescentes suprem falta de mão de obra na China
sexta-feira, 26 de setembro de 2014
Criança e Adolescente
Divulgação
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Escolas enviam milhares de adolescentes à cidade para montar aparelhos eletrônicos para algumas das maiores marcas do mundo. Muitos estudantes dizem que não têm escolha.
"Fui informada que teria que passar o verão montando computadores ou não poderia concluir o curso", diz uma menina de 16 anos cujo sobrenome é Xiao. Ela está se preparando para a universidade num programa de uma escola de ensino técnico local. "Sinto que fui enganada."
Xiao e seus colegas de escola trabalharam na linha de montagem de um fornecedor da Hewlett-Packard Co., chamado Quanta Computer Inc., 12 horas por dia durante seis dias por semana – condições que violam a regulação chinesa para trabalhadores com menos de 18 anos. "Às vezes, ficamos tão cansados nos turnos noturnos que quase dormimos", diz ela.
As leis da China limitam o trabalho de estagiários a oito horas por dia, sem turnos noturnos, e determinam que as escolas coloquem os estudantes em estágios relacionados a suas áreas de estudo. Essas regras são amplamente ignoradas pelas fábricas.
Estagiários estão cada vez mais integrados à força de trabalho do país, principalmente nos grandes fabricantes de eletrônicos. Em algumas fábricas, há mais estagiários que trabalhadores regulares, dizem estudantes.
Algumas grandes marcas, como H-P e Apple Inc., afirmam que estão trabalhando com seus fornecedores para garantir que o uso de estagiários seja aceitável e obedeça as leis trabalhistas, mas reconhecem que há infrações.
A prática tem a chancela oficial do Ministério da Educação da China, que, em 2010, afirmou que escolas de ensino técnico deveriam fornecer estudantes para suprir a falta de trabalhadores.
As escolas de ensino técnico da China buscam, em grande parte, estudantes que não planejam fazer um curso superior. Algumas proporcionam treinamento de alta qualidade, enquanto outras submetem os estudantes a longos estágios em fábricas, dizem pesquisadores.
Os estágios podem durar de três meses a um ano, dependendo da escola. O ministério declarou que há pelo menos oito milhões desses estagiários todo ano. O órgão não respondeu a pedidos de comentário.
A China há muito depende de trabalhadores migrantes para operar suas fábricas nas áreas costeiras, mas, nos últimos anos, o governo começou a direcionar a indústria para o interior do país. Chongqing, também chamada Xunquim, viu sua demanda por trabalhadores disparar à medida que fabricantes afluíram em massa para a cidade. Mas dado que o salário mínimo de Chongqing equivale a cerca de 65% do pago na costeira Xangai, os trabalhadores migrantes preferem rumar para o litoral.
"A maioria dos trabalhadores regulares quer ir para algum lugar com melhores salários", diz Qin Lei, que tem 18 anos e concluiu um estágio obrigatório numa linha de montagem de laptops da Pegatron Corp.
Alguns estagiários de Chongqing disseram que recebiam quase o mesmo salário de um trabalhador regular, ou cerca de 1.300 yuans (US$ 212) por mês, fora horas extras, embora vários estudantes dissessem que tinham que dar a maior parte de seu salário básico para suas escolas.
Estagiários de três das empresas taiwanesas – Pegatron, Compal Electronics Co. e Wistron Corp. – que fabricam computadores pessoais para muitas das grandes marcas globais disseram que estudantes eram a maioria nas suas fábricas em Chongqing. Trabalhadores na fábrica da Quanta disseram que uma grande proporção deles era de estudantes.
A Wistron, uma das fornecedoras da H-P, contestou as alegações dos trabalhadores, afirmando que a fatia de estagiários caiu para cerca de 48%. A H-P afirmou que seus registros mostram que, em julho, os estagiários respondiam só por 12% dos funcionários nas suas linhas de montagem no oeste da China. Uma porta-voz da H-P não deu detalhes sobre a discrepância nos números, mas disse que a Wistron estava próxima de cumprir as diretrizes da H-P.
Já a Acer Inc., cujos laptops são feitos em Chongqing, afirma que o uso abusivo de estudantes foi uma das infrações mais comuns na sua auditoria de fornecedores de 2012, o que levou a empresa a lançar um programa de gerenciamento de estagiários em 2013.
Tanto a Wistron como a Pegatron reconhecem que os estagiários, às vezes, trabalham mais horas do que o apropriado, mas afirmaram que estão empenhados para reduzir essas práticas. A Pegatron, que fabrica laptops para Toshiba e Asustek Computer Inc. em Chongqing, afirmou que 30% de sua força de trabalho é composta por estagiários. Quanta e Compal, as maiores montadoras de laptops do mundo, não quiseram comentar.
A Asustek afirmou que "vai conduzir uma investigação detalhada" sobre as condições de trabalho de estagiários. Um porta-voz da Toshiba disse que não estava a par das condições, mas que esperava que as fábricas respeitassem as leis locais e as convenções sociais.
Estagiários da Pegatron e outras fábricas, no entanto, disseram que os turnos noturnos e longas jornadas continuam sendo a norma.
A China, que pretende tornar sua economia mais baseada em setores de maior capacitação, anunciou no ano passado uma reforma das escolas de ensino técnico, que abrigam 29,34 milhões de estudantes em todo o país.