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Trabalhador da Construção Civil de São Paulo é demitido por querer estudar
terça-feira, 1 de dezembro de 2015
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José Carlos Clemente dos Santos é um homem simples e trabalhador. Há 30 anos mudou-se para a capital paulista em busca de melhores condições de vida. Nascido em Maceió, capital de Alagoas, sempre teve a vontade de melhorar de vida a qualquer custo, independentemente de sua condição física ou de seus 56 anos de idade.
Há dois anos, José decidiu iniciar seus estudos, o que não pôde fazer durante sua vida no sertão.
“Lá em Alagoas a vida era difícil. Cortávamos cana para ajudar a família a ganhar algum dinheiro para sobreviver. Era complicado sequer pensar em estudar por isso decidi me mudar para São Paulo”, diz José.
Antes de enfim iniciar sua caminhada acadêmica, o companheiro teve algumas experiências profissionais.
Em 1992 ele trabalhou na empresa Billi Farmacêutica, por quatro anos.
Depois de 13 anos, em 2009, José Carlos assumiu atividades como auxiliar de limpeza na empresa Starworks Serviços, porém o trabalhador não ficou nem um ano ali, pois logo depois ele foi contratado pela empresa Lemam Construções e Comércio Ltda.
A partir de então o companheiro começou a passar por alguns problemas.
No primeiro ano prestando serviços a esta empresa, José Carlos sofreu um grave acidente.
Ele estava trabalhando na construção do CEU do Jardim Paulistano, na Zona Leste de São Paulo, e ao segurar uma barra de ferro seu braço não suportou o peso, causando uma grave lesão no ombro.
“Eu estava junto de mais três pessoas. Porém a barra era pesada demais e eu não suportei. Imediatamente o pessoal responsável me encaminhou ao médico. Fiquei oito meses parado, sem trabalhar e sem receber um tostão furado”, relembrou ele.
Felizmente, após entrar em contato com seus advogados, o companheiro conseguiu vencer na justiça e receber seu direito. Todavia, outro percalço ameaçou interromper a carreira de José. Desta vez, trabalhando em uma obra no bairro de Itaquera, ele sentiu fortes dores na perna, sendo diagnosticada uma artrose na região.
O alagoano ficou mais dez meses parado. E o pior: até hoje ainda não recebeu um centavo.
“Não ganhei dinheiro algum por ter ficado parado por conta daquele acidente. Ainda por cima eu trabalhei mais um mês direto e não recebi pagamento e agora eu também tenho uma complicação na coluna, mas não posso deixar de exercer minhas funções”, explanou.
José Carlos, apesar de todas essas dificuldades, não abandonou a luta. Ele é um exemplo de força de vontade, mesmo trabalhando arduamente, desde 2013 ele luta para iniciar seus estudos. E é justamente por tentar se alfabetizar que nosso companheiro está passando por mais um momento difícil em sua vida.
O horário das aulas dele começa às 19 horas, porém sua escola fica longe do lugar onde ele está trabalhando atualmente.
A obra fica próxima ao aeroporto de Congonhas e o local de estudo fica no Jardim Paulistano (curiosamente é no mesmo CEU onde sofreu seu primeiro acidente).
Para tentar conciliar tanto o estudo como o trabalho chegava ao ponto de abrir mão de 30 minutos de seu horário de almoço para sair mais cedo e assim chegar a tempo para as aulas.
“Mesmo eu me esforçando, abrindo mão de metade do tempo do almoço para tentar sair mais cedo do canteiro, eu ainda chegava lá em cima da hora e às vezes até atrasado, pois eu pego mais de uma condução”, ponderou.
Infelizmente o responsável pela obra e principalmente pelo seu bolso, começou a impedir seu José de sair mais cedo pelos últimos dois meses, até que, no dia 9 de novembro último, recebeu um ultimato: ou trabalha ou estuda. Ele preferiu seguir o sonho de aprender.
José Carlos recebeu a carta de aviso prévio de dispensa da empresa Lemam solicitando ao companheiro que no dia 23 de novembro comparecesse ao canteiro de obra para receber orientações e providenciar a baixa na carteira.
Por conta desse absurdo, no dia em que foi ao local ele esteve acompanhado por uma das equipes de base do Sintracon-SP. Isso para que lhe fosse assegurado o pagamento de todos os atrasados e benefícios pendentes.
Mesmo tendo passado por tantas dificuldades, José Carlos não tira de sua cabeça a missão de se alfabetizar para que futuramente ele possa viver melhor, trabalhando, porém em condições um pouco mais fáceis.
“Eu preciso do trabalho, mas principalmente do estudo. Daqui a alguns anos eu quero estar melhor de vida em um emprego melhor, estou com 56 anos, mas isso não me impede de tentar alcançar uma qualidade melhor para eu mesmo”, concluiu.