O número de empregos abertos recentemente pode parecer baixo quando comparado ao volume de demissões durante a crise. Mas revela, por outro lado, que a empresa está segura em relação às perspectivas para os próximos meses. "No começo, pensávamos que a recuperação era uma bolha. Aproveitamos, então, a reforma trabalhista para fazer contratações temporárias. Mas depois percebemos que não era uma bolha e começamos a efetivar os novos funcionários", afirma Luis Pasquotto, presidente da Cummins no Brasil e América Latina.
Para ele, além da vantagem cambial, a exportação para outras unidades da companhia é, de certa forma, um reflexo das lições que a crise deixou. "Todo o mundo aprendeu a ficar mais competitivo", diz. Além da eficiência, a capacitação profissional destacou a subsidiária no grupo. Total de 30 engenheiros brasileiros, quase a metade da equipe no país, são hoje pagos pela matriz da companhia para desenvolver produtos para Estados Unidos e China. "A crise provocou redução de pessoal, mas, por outro lado, trouxe ganhos nessa área", destaca o executivo.
É provável que o orgulho que Pasquotto sustenta pelo reconhecimento internacional de sua equipe de engenharia tenha origem em sua própria formação. Graduado em engenharia mecânica aeronáutica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), ele passou uma parte da carreira na indústria de aviões. Seu primeiro emprego foi na Pratt& Whitney, fabricante de motores para aviões do Canadá, onde Pasquotto morou. De volta ao Brasil, passou depois por Embraer e Avibras.
O engenheiro estava satisfeito com o trabalho, muito próximo de sua casa, em São José dos Campos (SP). Mas por insistência de um amigo fez um teste na Cummins, em Guarulhos, onde trabalha há 26 anos.
Para o executivo, a indústria de caminhões, seu maior cliente, ainda não vive "os anos dourados" de 2011. Mas é clara a tendência de uma recuperação firme, com a possibilidade de, segundo seus cálculos, o mercado brasileiro de caminhões registrar, daqui para a frente, médias de crescimento anual entre 10% e 15%.
"Temos que levar em conta que a crise durou muito tempo. Ainda teremos solavancos, mas é claro que existe um descolamento entre a atividade econômica e o clima de incertezas por conta do período eleitoral, além dos prejuízos deixados pela greve dos caminhoneiros. Queiramos ou não o período de eleições retarda investimentos no país. Mas como existe uma demanda represada, o saldo é positivo", destaca.
No Brasil desde o início da década de 1970, a Cummins tem duas fábricas no país com 1,75 mil funcionários e produz motores, geradores de energia e filtros. Os motores representam a maior parte da receita, que não é divulgada pela empresa. Globalmente, o faturamento alcançou U$ 20,4 bilhões em 2017. A participação da América Latina é de 6%.
No balanço relativo ao segundo trimestre, divulgado esta semana, a empresa destacou que as vendas aumentaram 22% na América do Norte e 18% na divisão internacional, liderada pelo crescimento na China, Europa e América Latina. A companhia agora investe pesado no desenvolvimento de motores movidos a energias renováveis. Mas, segundo Pasquotto, mesmo o motor a diesel alcança nível de emissões quase zero na chamada fase Euro 6. Essa tecnologia, porém, só chegará ao Brasil em 2023.