O presidente da Força Sindical, Miguel Torres, reuniu-se com o Ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Marcio Macêdo, nesta terça-feira (4), debater propostas para o Brasil.
O grupo japonês Toyobo, que opera no Brasil há 62 anos, encerrou suas atividades de fiação e tecelagem no país no dia 3 deste mês, com o fechamento do complexo industrial que mantinha em Americana (SP). A unidade, que empregava 400 pessoas, tinha capacidade para produzir 800 quilômetros por mês de tecidos planos e 800 toneladas de fios de algodão e fios mistos.
Percival Aires Kühl, ex-diretor da Toyobo do Brasil e porta-voz da companhia, disse que a competitividade brasileira caiu muito em comparação a países da Ásia nos últimos anos, tornando inviável a produção lucrativa de tecidos e fiação. "Tivemos nos últimos anos aumento acentuado nos custos como logística, seguro e infraestrutura. Mas o aumento da energia elétrica e a reoneração da folha de pagamentos tiveram maior peso na elevação dos custos. Com o câmbio oscilando a R$ 3,20, a indústria local não é competitiva", disse Kühl.
De acordo com o ex-diretor, a companhia teve prejuízo no país nos últimos anos e não viu perspectiva de recuperação num futuro próximo. Além disso, disse Kühl, a Toyobo decidiu globalmente deixar de priorizar a produção de têxtil, considerada commodity, para se dedicar a outras áreas. "A empresa ainda mantém fábricas têxteis na Ásia, mas no Brasil a meta é desenvolver outras atividades, como a produção de resinas termoplásticas, que teve fábrica inaugurada o ano passado, com investimento de R$ 20 milhões", afirmou.
No primeiro semestre fiscal, concluído em 30 de setembro, a japonesa Toyobo registrou uma queda de 9,4% no lucro líquido, para 8,74 bilhões de ienes (US$ 81,9 milhões) e queda na receita de 8,4%, para 164,66 bilhões de ienes (US$ 1,54 bilhão). As vendas de produtos têxteis caíram 9,2% em receita, para 39,8 bilhões de ienes (US$ 372,9 milhões), com perdas associadas ao câmbio e à demanda global mais fraca.
As resinas termoplásticas são usadas para produção de componentes automotivos, como lanternas, retrovisores e outras partes de veículos. A unidade funciona em Americana (SP). Kühl diz que a fábrica opera atualmente com 50% da capacidade instalada, mas fechou contratos com novos clientes e espera recuperação nesse negócio em 2017. A Toyobo do Brasil também mantém uma unidade em Salto (SP) de produção de enzimas para diagnósticos, voltada para exportação, e uma fábrica bioinseticidas, também em Salto.
Dos 400 funcionários da parte de fiação e produção têxtil, 300 já foram desligados e outros 100 trabalham no fechamento das fábricas. Kühl disse que a Toyobo do Brasil ainda avalia se vai alugar os edifícios para outros fabricantes ou vender os prédios.
Em outubro, a OMI do Brasil Têxtil, do grupo japonês Omikenshi, também anunciou o fechamento, em dezembro, de sua fábrica em Lençóis Paulista (SP), alegando dificuldades para competir com produtos importados da Ásia e custos crescentes de produção no país. A empresa já tinha fechado outra fábrica no início do ano, na mesma cidade. Ao todo, a OMI do Brasil demitiu 500 pessoas.
De acordo com dados do Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem do Estado de São Paulo (Sinditêxtil-SP), nos últimos 12 meses, 16,6 mil postos de trabalho foram fechados no Estado por indústrias têxteis. No Brasil, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego, as indústrias têxteis e de vestuário fecharam 60 mil vagas no acumulado de 12 meses até setembro.
A produção nacional de produtos têxteis acumula uma queda de 10,7% em 12 meses até setembro e o comércio de tecidos, vestuário e calçados apresenta uma queda de 11,4% em volume no mesmo período, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para Alfredo Bonduki, presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem do Estado de São Paulo (Sinditêxtil-SP), a decisão da Toyobo do Brasil reflete a falta de perspectiva das indústrias têxteis e de fiação do país. "Uma indústria toma essa decisão porque já está em uma situação muito ruim e não tem perspectiva de melhorar. Acredito que seja a pior recessão para o setor em cem anos", afirmou Bonduki.
Ele acrescentou que, em São Paulo, outro fator negativo é a carga tributária. Enquanto o Estado recolhe 12% de ICMS das indústrias de confecção que vendem para outros Estados, o Rio de Janeiro recolhe 3,5%; Santa Catarina recolhe de 3,5% a 4%; no Mato Grosso do Sul, o ICMS é zero. "As confecções acabam mudando para os Estados vizinhos porque a carga tributária é menor", afirmou Bonduki.
De acordo com dados do Sinditêxtil-SP, o Estado de São Paulo empregava 500 mil pessoas na indústria têxtil em 2014. No ano passado o setor fechou 32 mil vagas. Nos últimos 12 meses perdeu 16 mil. O Estado responde por 30% da cadeia têxtil nacional.