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A história do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo

terça-feira, 18 de março de 2025

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A história do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo

A história do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo

A história do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo

Por Carolina Maria Ruy

O Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo chegou aos 90 anos em dezembro de 2022. Em março de 2025, será publicado um livro sobre sua história. Teses e revistas especiais já foram publicadas em outros anos. Um livro, é a primeira vez. Tive a honra de escrevê-lo, a convite do presidente da entidade, Miguel Eduardo Torres. A orientação foi que a história deveria ir até 2008, ano em que o dirigente assumiu a presidência. Assim foi feito.

Usei, como fonte de pesquisa, duas teses: uma da historiadora Maria Helena Simões, publicada em 1979, chamada “O Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo – 1932 a 1951”, e outra, da também historiadora Carmen Lucia Evangelho, chamada “A organização sindical dos metalúrgicos de São Paulo”, publicada em 1992. Usei também o livro “Duas estratégias sindicais”, de Cecília Ornelas Renner (2002), que compara os acordos coletivos dos sindicatos dos metalúrgicos de São Paulo e São Bernardo, ressaltando os bons resultados para a base da capital.

Usei ainda artigos, o jornal da entidade chamado *“O Metalúrgico” e diversos depoimentos que temos arquivados no Centro de Memória Sindical.

Ao escrever sobre esta história, dois aspectos me chamaram a atenção.

O primeiro é a formação política que a entidade promoveu ao longo de sua história e ainda promove. Não apenas de sua base militante, mas como protagonista de importantes movimentos e lutas sociais.

Isso ocorre desde o início, na década de 1930, com a intensificação de um debate sobre direitos trabalhistas e maior organização e politização dos trabalhadores. Em 1953, por exemplo, os metalúrgicos de São Paulo, junto com outras categorias, como têxteis e gráficos, protagonizaram a Greve Geral contra a carestia. Vitoriosa, a greve promoveu um senso de unidade entre os sindicalistas, a partir do qual foi possível criar organizações unitárias, como o Pacto de Unidade Intersindical (PUI) e, em 1955, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), do qual os metalúrgicos de São Paulo participam desde a primeira diretoria.

Nas décadas de 1950 e 1960, sob influência dos comunistas como Remo Forli e Afonso Dellelis, o Sindicato teve papel central nos grandes movimentos que redefiniram os rumos das negociações trabalhistas e da organização sindical.

Antes do golpe militar de 1964, a entidade sofreu ao menos três intervenções: em 1936, em 1939 e em 1946. E já era uma prática dos metalúrgicos driblar essas intervenções por meio das chamadas “comissões de fábrica”.

O Sindicato esteve à frente do movimento pelo abono salarial, em 1962, e da luta contra o golpismo. Já em dezembro de 1963, meses antes do golpe militar, a entidade viveu a repressão, tendo o presidente e o secretário-geral, Dellelis e Plácido Araújo, presos por participarem da Rebelião dos Sargentos. Na ditadura, a categoria sofreu perseguição, mortes como as de Olavo Hanssen (1970), Luiz Hirata (1971), Manoel Fiel Filho (1976), Nelson Pereira de Jesus (1978) e Santo Dias (1979), e com o aumento de acidentes de trabalho impulsionado pelo período ironicamente chamado de “milagre econômico”.

O Sindicato se envolveu com as principais manifestações contra a ditadura, como a onda de greves a partir de 1978, foi organizador da 1ª Conclat, em 1981, foi protagonista da Greve Geral de 1983 e participou ativamente da campanha pelas Diretas Já! e pela Constituinte. Vale destacar que, em 1985, a campanha salarial unificada conquistou redução da jornada de trabalho de 48 para 44 horas semanais, um direito que foi incorporado na Constituição Cidadã de 1988, estendido a todos os trabalhadores brasileiros.

A partir da década de 1990, especialmente após a criação da Força Sindical (em 1991), além das tradicionais campanhas salariais e da luta pelos trabalhadores metalúrgicos de São Paulo, o Sindicato envolveu-se em movimentos nacionais, como as Marchas da Classe Trabalhadora.

O segundo aspecto que chamou a atenção foi a percepção de que, pelo tamanho, importância, cidade e setor que representa, a história e a base metalúrgica de São Paulo são alvo de intensa disputa. Até mesmo no dia e hora da fundação, isso se manifestou, como conta a historiadora Maria Helena Simões, em sua tese de mestrado. Segundo ela, a União dos Metalúrgicos, uma concorrente anarquista, teria convocado uma assembleia para as 20 horas do dia 27 de dezembro de 1932. Ou seja, no exato momento da fundação do Sindicato. Sua conclusão é que a convocação teve o objetivo de esvaziar aquele ato.

Mais tarde, no período da ditadura militar, grupos de oposição começaram a se formar. Pequena, porém barulhenta, a oposição passou a reivindicar parte da história e a memória de seus mártires, como é o caso do metalúrgico Santo Dias da Silva, assassinado pela ditadura durante greve em outubro de 1979. Consta, na tese de doutorado da historiadora Carmen Lucia, que Santo, ainda que fosse da oposição, não era radical e, pouco antes de seu brutal assassinato, já havia decidido compor com grupos que atuavam dentro do sindicato.

Esses grupos são outra expressão das disputas e dos esforços de composição que os metalúrgicos de São Paulo viveram em sua história. Diretores de esquerda, ligados ao Partido Comunista ou à Igreja Católica, optaram por fazer parte da direção liderada por Joaquim dos Santos Andrade. Com o fim do mandato de Joaquim, em 1987, entretanto, as tensões aumentaram. Parte da oposição que havia composto com Joaquim só retornou ao sindicato na década de 1990, iniciando uma diretoria politicamente ampla que se mantém até a atualidade.

A história dos metalúrgicos de São Paulo ajuda a entender a história da cidade, sendo parte do processo de industrialização brasileira. Ela traz, porém, o ângulo dos trabalhadores e da luta por direitos. Antes da fundação do Sindicato, as principais reivindicações giravam em torno de demandas elementares, como uma jornada mais humana e um salário que fosse além da mera subsistência. Após sua fundação e ao longo de sua história, o nível das reivindicações mudou. Sua atuação contribuiu para mudar as condições abusivas dos primórdios da indústria.

Mas, em seus 90 anos, ainda precisa enfrentar forte resistência em um mundo dominado pela lógica do mercado, que fortalece o capital em sua histórica contradição com o trabalho.

Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical

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