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Educação
Fernando Granato, professor: Precisamos repensar o modelo de ensino
quarta-feira, 29 de novembro de 2017
Educação
Sou co-criador da Quíron Educação, organização de ensino complementar e participativo, com o objetivo de empoderar pessoas e formar protagonistas para a sociedade. Acredito que o mundo pode ser menos desigual. Tenho mestrado em Psicologia e Economia Criativa.”
Conte algo que não sei.
Precisamos repensar urgentemente o modelo de ensino, algumas matérias e o acesso a esse tipo de conteúdo também. O mundo mudou muito, e ainda utilizamos o mesmo modelo desde a Revolução Industrial, que é focado em repetição, decoreba e algumas disciplinas que não ajudam o aluno a tirar seus sonhos do papel nem a desenvolver o seu potencial.
E como é o trabalho que vocês realizam?
Realizamos cursos de 30 a 360 horas, dentro e fora do Brasil, com temas que geralmente não há na escola, como empreendedorismo, criatividade, autoconhecimento, sustentabilidade, política e liderança. Nosso objetivo é ajudar o jovem a saber qual é o seu talento e a tirar isso do papel. Hoje, estamos em oito estados, além de já ter atuado em uma zona de conflito na Colômbia. Trabalhamos tanto em instituições públicas quanto em privadas, sendo que cerca de 80% do nosso público vivem em vulnerabilidade social. Na Rocinha, ministramos o curso Despertando Potenciais para os 12 alunos do Centro de Escalada Urbana.
O que tem de diferente de uma aula tradicional?
O formato e o conteúdo. A linguagem é mais coloquial e nos sentamos em círculo, para mostrar que todos têm voz. Sobre o conteúdo, nós ensinamos conceitos de empreendedorismo e criatividade — não tanto no nome, mas em como ele funciona —, pedimos para eles trazerem problemas reais e, a partir disso, ajudamos a colocar o conceito em prática. São eles mesmos quem desenvolvem as soluções. Por isso é que conseguimos levar o curso para diferentes regiões, porque não impomos um projeto determinado.
Qual a diferença entre um aluno de escola particular e um de comunidade?
Percebemos que nem todo jovem tem acesso ao conteúdo que abordamos. Um aluno da escola particular pode não aprender, mas ele tem condições de fazer um curso fora e de ser visto. O da comunidade, não. Acho que o que falta é dar voz para este jovem e quebrar alguns preconceitos. Quando a gente chega a lugares como a Rocinha, criam-se vários estereótipos de que esse jovem não tem perspectiva. E aí você vê que ele tem, mas não teve oportunidade. O que percebemos é que esse jovem, quando identifica uma, ele a agarra, porque não tem muitas.
O Rio passa por problemas sérios de segurança. Essa dinâmica pode mudar algo?
A educação é a base. Se não, vamos seguir tapando buraco. Claro que tem uma situação crítica em que você tem que agir, mas, mesmo combatendo o tráfico e a violência, fica estancando. Se não trabalhar na base e não começar a formar líderes diferentes, a criança vai continuar com a referência do traficante. As pessoas vão procurar emprego e dizem que, ao falar que moram na Rocinha, sofrem preconceito. Projetos assim começam a gerar um novo olhar.
Qual é a problemática que você quer resolver?
Formar uma sociedade com cidadãos mais protagonistas, que conhecem seus sonhos e correm atrás deles. Pois, consequentemente, quando há pessoas que fazem isso, há cidadãos mais felizes. E, com pessoas mais felizes, acredito que temos um mundo melhor. Essa é a nossa teoria da mudança. E isso é feito através da educação e de um novo modelo de ensino que faça pensar diferente.