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Força
Dica de Filme relacionado ao Mundo do Trabalho: Gigante
sexta-feira, 9 de abril de 2010
Força
Gigante
Uruguai, Argentina, Alemanha, Espanha, 2009
Adrián Biniez
Com Horacio Camandule, Leonor Svarcas
Certa vez li um comentário muito oportuno sobre a (má) reação da platéia do rock´n´rio, que aguardava o show da banda Guns´n´Roses, ao 'ter que' assistir à apresentação anterior do cantor Carlinhos Brown. Lembro bem deste episódio. Brown recriou um cenário folclórico para suas músicas que combinavam ritmos regionais. Era uma coisa interessante. Mas, o ponto do articulista, não me lembro seu nome, era que o brasileiro havia preparado uma apresentação muito conceitual e sofisticada, soando pretensiosa, incondizente com um festival de rock. Ainda mais para uma massa que se mobilizara para ver o rock cru e pesado do Guns.
Anos se passaram deste evento. Mas ele deixou um pensamento de que muitas vezes a intelectualidade vacila em estereótipos e preconceitos ao pensar sobre o ‘povo’. Esta que chamo de intelectualidade, por não achar nome melhor, comumente desconsidera muito do que faz parte do cotidiano das pessoas comuns. Quem era aquela platéia ávida pelo rock? Cobradores, metalúrgicos, operadores de telemarketing, vendedores, garçons, desempregados, estudantes, seguranças…
Este é um fio da meada interessante para desembaraçar o filme uruguaio Gigante. Logo na primeira cena me chamou a atenção o fato de que Jara (Horacio Camandule), o grande e tímido segurança de supermercado, ostentava uma camiseta da banda de rock pesado Biohazard. Imediatamente me veio à mente a massa que se mobilizara para ver o Guns e se estabeleceu um parâmetro para acompanhar o personagem.
O filme, ao que parece, tem um olhar realista sobre as pessoas. Ele trabalha bem com o contraste entre a imponência física de Jara, seu vigor e intensidade, com o pouco espaço e com o tédio em que ele vive e trabalha. Em sua condição de operário o gigantismo de Jara é enquadrado no pouco que cabe à sua classe. A partir deste pouco ele sustenta muitos sonhos, fantasias e aspirações, o que lhe garante charme e leveza.
Jara é jovem, é camarada, tem um bom coração. Ele gosta de rock pesado, assiste TV nas horas vagas. É atento aos detalhes. Sendo atento, descobre a faxineira Julia (Leonor Svarcas) através das câmeras de vigilância do mercada em que trabalha. Apaixona-se e logo sua vida passa a girar em torno da rotina dessa mulher e pelo desejo de conhecê-la.
A convivência com os colegas segue tranqüila, morna e engraçada até o fim, quando os trabalhadores pressentem que sofrerão com o fato de que a situação da empresa aperta. A greve que sacode o filme, já no seu fim, propicia que Jara tome novos rumos, saindo da rotina de sua vigilância.
É um filme muito interessante. Que trata com graça e romantismo da vida cotidiana de trabalhadores. Aquele tipo de função, que prevê micro relações de poder, se assenta em uma alienação essencial do trabalhador com seu trabalho. O contraste as imagens do mercado, freqüentado por ‘clientes’ com seus ‘bastidores’, onde ficam os trabalhadores, é simbólica. Enquanto as primeiras são harmoniosas, limpas e brilhantes as segundas são escuras, precárias, descuidadas. Ainda assim o filme indica que aqueles trabalhadores buscam levar a vida da melhor forma. Muitas vezes isso se traduz no chamado ‘tirar leite de pedra’. São processos e delicadezas que revelam o que de fato é gigante.