Estudar, para essas crianças, não é apenas um privilégio: é a possibilidade concreta de escapar de um destino já traçado, de não ficar condenado às mesmas marés de sal.
Lançada em 1967, “Canção do Sal”, interpretada por Elis Regina, é a primeira composição gravada de Milton Nascimento, um marco que já anunciava a força de sua obra.
A letra é um retrato da dignidade do trabalhador anônimo e da esperança que nasce mesmo no ambiente mais árido. Ao escolher o sal como metáfora central, Milton dialoga com um símbolo carregado de ambivalências: o sal que conserva e dá sabor, mas que também fere; o sal que é riqueza e miséria, sobrevivência e prisão.
Essa dualidade ecoa a condição do trabalhador pobre brasileiro, que doa a própria vida para o sustento dos outros e, mesmo assim, vive à margem.
Canção do Sal
(Composição: Milton Nascimento/1967)
Intérprete: Elis Regina
Trabalhando o sal é amor é o suor que me sai
Vou viver cantando o dia tão quente que faz
Homem ver criança buscando conchinhas no mar
Trabalho o dia inteiro pra vida de gente levar
Água vira sal lá na salina
Quem diminuiu água do mar
Água enfrenta sol lá na salina
Sol que vai queimando até queimar
Trabalhando o sal pra ver a mulher se vestir
E ao chegar em casa encontrar a família sorrir
Filho vir da escola problema maior é o de estudar
Que é pra não ter meu trabalho e vida de gente levar
Fonte: Centro de Memória Sindical
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