O cartunista Gilmar Machado, mais conhecido no universo das artes gráficas apenas como Gilmar, levou o Grande Prêmio do 51º Salão Internacional de Humor de Piracicaba, evento realizado desde 1974 no município paulista, considerado um dos maiores do mundo no humor gráfico.
Com cartum sobre desrespeito aos povos originários e às florestas do Brasil durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, o artista, que publica seus trabalhos no Diário, ganhou, além do prêmio principal, o primeiro lugar na categoria dedicada ao gênero específico.
A cerimônia de premiação foi realizada no último sábado (31), em Piracicaba, e premiou, além de Gilmar, outros artistas nas seguintes categorias: charge, caricatura, tiras/HQ e esculturas.
A mostra principal contou com 453 trabalhos, produzidos por 229 artistas de 23 países.
A obra vencedora foi publicada em 2019 nas redes sociais de Gilmar (@cartunistagilmar) e critica a política ambiental promovida durante o primeiro ano da gestão do governo Bolsonaro.
O cartunista, que mora em Santo André, revela que ficou muito surpreso com a vitória e que o reconhecimento foi importante por conta do atual momento da sua carreira.
Gilmar enfrenta um processo por danos morais movido pelos músicos Roger Machado Moreira e Marcos Fernando Mori Kleine, da banda Ultraje a Rigor.
Os artistas pedem R$ 30 mil em indenização por danos morais por conta de uma charge que retrata os integrantes. Na imagem, além do desenho da dupla, aparece a frase “fascistas falidos”.
“Esse processo judicial acaba afetando o emocional, então esse prêmio vem em um momento importante para estimular e dar mais força para o trabalho”, diz o artista.
Sobre o teor crítico, social e político que adota em seus traços, Gilmar destaca com orgulho sua formação profissional.
“Trabalhei por muitos anos na imprensa sindical, que tinha muita força no Grande ABC. Foi no Sindicato dos Metalúrgicos que me formei como cartunista e como pessoa”, disse.
Com mais de quatro décadas de carreira, Gilmar Machado Barbosa nasceu em Presidente Dutra, na Bahia, mas está radicado no Grande ABC desde 1974. Começou a carreira em 1984, no jornal A Voz de Mauá.
Em 2003, ganhou o Troféu HQ Mix, o Oscar do traço brasileiro, e o prêmio Vladimir Herzog na categoria artes. É autor de dez livros de cartuns e quadrinhos, cinco deles adotados pelo governo para distribuição em bibliotecas públicas.
Apoio
Os colegas de traço Sérgio Ribeiro Lemos, o Seri, e Luiz Carlos Fernandes, ambos chargistas que publicam seus trabalhos no Diário, parabenizaram o colega pela conquista.
“As charges do Gilmar são corajosas, ele coloca o dedo na ferida, são contundentes. O traço dele é solto e com muito estilo, você não precisa olhar a assinatura para saber de quem é. Fiquei muito feliz por ele, que é mais que amigo, é o irmão que escolho para a vida”, afirma Fernandes.
Seri fala sobre as críticas relacionadas ao trabalho do artista e sobre o processo de danos morais que enfrenta.
“Esses prêmios conquistados por Gilmar vêm a calhar, por oferecerem uma resposta mais alta que o maior volume que uma caixa de som ultrajante possa causar. E não como tom de revanche, mas sim que traz a significância para um artista legítimo que, desde o pau-de-arara em que migrou do nordeste até os dias hoje, se atualiza e se esmera em solidificar uma arte sempre em consonância com seu tempo”, destaca o colega.
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