Com a abertura econômica brasileira, a partir dos anos 90, o setor produtivo e também os serviços vivem uma série de fusões e aquisições. Empresas brasileiras e estrangeiras adotam a política de fortalecimento no mercado interno, visando disputar espaço no plano global. Se reestruturam de maneira a poder assegurar capacidade de competição e a chamada eficiência naquilo que melhor sabem fazer: vender.
O propósito que leva empresas a comprar ou fundir-se com outras fica por conta da ampliação de mercado (elevação do market share), penetração rápida em determinadas regiões, eliminação da concorrência, diversificação do risco, além da diminuição de custos e aumento do lucro.
Estudos da KPMG, empresa de auditoria e consultoria financeira, dão conta de que nos últimos 15 anos tem sido o setor de alimentos, bebidas e fumo o campeão em fusão e aquisições com 557 transações, deixando para trás setores como o dos supermercados, que neste rol ocupam hoje 17º lugar.
Nas últimas semanas tomamos conhecimento de três grandes negócios desta natureza: Sadia/Perdigão; Seara/Marfrig; e os frigoríficos JBS Friboi/Bertin, que também comprou a americana Pilgrim’s Pride, uma das líderes no mercado de aves nos Estados Unidos. O que a coloca na condição de maior empresa do mundo no tocante ao abate e processamento de carnes. Um negócio anual da ordem de US$ 30 bilhões. No Brasil, o novo grupo fica atrás apenas da Petrobras e da mineradora Vale do Rio Doce.
Tais aquisições, disfarçadas de fusões, certamente para evitar sentimento negativo junto ao mercado, elevam o temor de outros setores quanto à concentração de determinados ramos de atividade em poucas mãos, e o que poderá ocorrer daqui para frente se este quadro se mantiver. E os meios de comunicação oferecem inclusive espaço para que representantes de fornecedores expressem seus temores e preocupações.
Todavia, esta mesma preocupação não tem ocorrido quando se trata de quem produz, ou seja, dos trabalhadores. As fusões e aquisições implicam, inevitavelmente, em demissões especialmente nas empresas adquiridas, como forma de redução de custos. Sem contar o prejuízo que isto implica para o mercado de consumo que vê reduzidas a concorrência e a possibilidade de escolha de produtos, uma vez que o processo em marcha reduz significativamente se não elimina por completo essas opções para quem consome.
Os mais prejudicados são os trabalhadores que perdem seus empregos, quando da adoção de medidas gerenciais voltadas para enxugar custos, os chamados ajustes, e assegurar ao máximo a taxa de lucro aos novos proprietários. Esta tem sido a missão dos executivos que dirigem esses empreendimentos e que, quando das fusões e/ou aquisições, se voltam com ferocidade para dentro das empresas visando eliminar postos de trabalho, retirar direitos trabalhistas, por considerar apenas o aumento dos ganhos aos acionistas e também os seus, visto que sua riqueza costuma concentrar-se nas companhias que dirigem.
Por outro lado, a imprensa que nessas ocasiões costuma ouvir os fornecedores, gente do governo e até entidade que fala em nome dos consumidores, ignora os trabalhadores, os que mais sofrem nesses momentos. E isto não é por acaso, já que é evidente o seu comprometimento com o modelo de desenvolvimento econômico que permite a oligopolização e ainda a monopolização de setores inteiros por umas poucas empresas e mesmo por apenas uma dessas.
Como a obtenção do lucro é o propósito maior a ser alcançado, demitir trabalhadores passa a ser visto como algo benéfico e não como prejuízo para a sociedade. O sindicalismo brasileiro sabe bem o que tudo isto representa e não abre mão de lutar para evitar prejuízo aos trabalhadores por conta de interesses particulares de empresas que em nome da conquista de mercado eliminam a concorrência e postos de trabalho. Isto tudo com o aval de agências governamentais de fomento que gerenciam recursos especialmente aqueles oriundos do Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT-, mas que, ao emprestar dinheiro para as fusões e aquisições não impõem regras alguma para impedir que as demissões aconteçam.
Carlos Vicente de Oliveira, Carlão, é presidente do Sindicato dos Empregados na Indústrias da Alimentação de São Paulo (Sindeeia)