A análise a seguir baseia-se nos dados do Boletim Trimestral – 1º trimestre de 2025, publicado pelo CESIT/Unicamp[2]. O boletim oferece um panorama abrangente do mercado de trabalho brasileiro no início do ano, evidenciando avanços pontuais, mas também a permanência de desafios estruturais que impactam o acesso, a permanência e a qualidade do trabalho no país. Abaixo, destacam-se os principais pontos e tendências observados:
- Participação e Ocupação
- A taxa de participação na força de trabalho foi de 62,2%, o que significa que pouco mais de 6 em cada 10 pessoas em idade ativa estão inseridas no mercado de trabalho.
- No entanto, 66,9 milhões de pessoas permanecem fora da força de trabalho — ou seja, não estão empregadas nem em busca ativa de emprego. Desse total, 43,3 milhões são mulheres.
- Entre os principais motivos para a desistência da busca por trabalho estão: a falta de oferta de vagas na localidade (22%) e a necessidade de cuidar de afazeres domésticos ou familiares (21,2%). Esse dado reforça a centralidade do trabalho de cuidado não remunerado, predominantemente realizado por mulheres, como um fator de exclusão do mercado de trabalho.
- Ocupação e Desemprego
- A população na força de trabalho alcançou 110,1 milhões de pessoas, mas o nível de ocupação foi de apenas 57,8%, revelando que uma parcela significativa da população economicamente ativa permanece sem emprego.
- A taxa de desemprego nacional foi de 7,0%, com grandes desigualdades regionais — variando de 3% em Santa Catarina a 11,6% em Pernambuco.
- O desemprego atinge de forma mais aguda os jovens de 14 a 24 anos, com taxa de 12,4%. Na faixa de 17 a 19 anos, o índice chega a 24,4%, evidenciando as dificuldades de inserção desse grupo no mercado, sobretudo em áreas urbanas.
- Subutilização e Informalidade
- A subutilização da força de trabalho atingiu 15,9%, incorporando pessoas desempregadas, subocupadas por insuficiência de horas e aquelas em desalento. Os estados com os maiores índices são: Piauí (34%), Bahia (27,5%) e Alagoas (27,5%).
- A informalidade, segundo a metodologia do CESIT, chegou a 46,6% da população ocupada. Isso significa que quase metade dos trabalhadores está fora da proteção trabalhista. Os maiores índices de informalidade se concentram nas regiões Norte e Nordeste, com destaque para o Maranhão (66%), Piauí (63,3%) e Pará (62,3%).
- Remuneração
- O rendimento habitual médio nacional foi de R$ 3.410,20, mas com fortes desigualdades por gênero e região.
- Em todos os estados, os homens recebem mais que as mulheres. Em São Paulo, os homens recebem em média R$ 4.504,78, enquanto as mulheres recebem R$ 3.507,40. No Distrito Federal, essa diferença é ainda maior: R$ 6.104,82 para homens e R$ 4.861,54 para mulheres.
- Os menores rendimentos se concentram nos estados do Norte e Nordeste, sendo o Maranhão um dos mais críticos, com rendimento médio de R$ 1.980,82 para mulheres.
Considerações Finais
O boletim revela um mercado de trabalho ainda marcado por profundas desigualdades estruturais, altos níveis de informalidade, subutilização da força de trabalho e baixa remuneração, especialmente entre mulheres, jovens e trabalhadores das regiões Norte e Nordeste.
Esses dados evidenciam a necessidade urgente de políticas públicas estruturantes, com foco em:
- Geração de empregos de qualidade e com direitos;
- Ampliação da rede pública de cuidados para reduzir a sobrecarga das mulheres;
- Promoção da formalização das ocupações e do acesso à proteção social;
- Combate à desigualdade salarial entre homens e mulheres, com ênfase nos recortes de raça, classe e território.
Marilane Teixeira é Economista, professora e pesquisadora do CESIT-IE – UNICAMP
[2] Acessar: https://pesquisa.ie.unicamp.br/wp-content/uploads/sites/62/2025/07/Boletim-trimestral-20251T.pdf