José Trindade perdeu a perna direita. Damásio o braço esquerdo. José Gilmar ficou paraplégico e perdeu a perna direita. Todos com menos de 30 anos de idade. Todos são vítimas da falta de segurança no trabalho, que foi denunciada nesta quinta-feira, 28, durante Ato Intersindical em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho e é pano de fundo do Livro “Rosca sem Fim”, lançado pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região.
As histórias contadas, o número de acidentes de trabalho, o déficit de auditores fiscais e todo o descaso com a saúde do trabalhador explicam o motivo do Cissor (Conselho Intersindical Saúde e Seguridade Social Osasco e Região) e seus sindicatos filiados construírem um Ato para lembrar as vítimas e chamar atenção da sociedade para o problema.
“Queremos providências, queremos um basta nos acidentes do trabalho. Para isso, além deste Ato, entregamos à Comissão dos Direitos Humanos da Alesp, na manhã deste dia 28, um documento que denuncia a precariedade, o descaso e mortes que têm acontecido na nossa região. Saímos de lá com um pedido de audiência pública sobre acidentes de trabalho”, destaca o presidente do Cissor, Elias de Gois.
Na abertura do ato, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região, Gilberto Almazan (Ratinho), disse que a situação caótica por trás dos acidentes, como a falta de prevenção e fiscalização, comprova o distanciamento do Estado brasileiro das relações do trabalho.
"Num primeiro momento com a reforma trabalhista que precarizou e muito as relações de trabalho, que aumentou o número de acidentes, inclusive os graves e fatais. Depois com o fechamento do Ministério do Trabalho. Isso deixou claro que não ia tratar destas questões, quando trata é com o viés do capital, do empresário para precarizar ainda mais o trabalho”, enfatiza Ratinho.
Desmonte da fiscalização da região
O Ato denunciou com detalhes a situação de desmonte de estruturas importantes para o combate aos acidentes de trabalho, como a Gerência Regional do Trabalho, em Osasco. Para atender a região, que compreende 15 municípios, o número ideal de auditores fiscais para fiscalizar acidentes seriam 58. No melhor momento, a região contava com 27 e, hoje, não tem auditor preparado para isso.
“Até o início do mês de abril, a Gerência estava funcionando de portas fechadas, sem Gerente Regional e sem chefia de fiscalização. Hoje, quem for lá vai dar com a “cara na porta”, porque está funcionando no prédio da Previdência Social em Osasco, sem nenhum contato físico com o público”, disse Carlos Aparício Clemente, coordenador do Espaço da Cidadania.
Livro Rosca sem Fim
O resultado deste desmonte e enfraquecimento da fiscalização de acidentes é possível ser observado no Livro “Rosca sem Fim – Basta de Mortes, Acidentes e Doenças do Trabalho”, lançado pelo Sindicato, no final do Ato Intersindical.
Com 128 páginas e uma linguagem simples, a obra reúne acidentes graves e fatais que aconteceram nos últimos 40 anos. Muitos mutilaram e outros tiraram a vida dos trabalhadores, que tinham em média, de 33 anos.
A publicação é um alerta, um pedido de socorro que, além de ajudar a ecoar a voz das vítimas e seus familiares, denuncia o papel desempenhado pelos Ministérios do Trabalho e da Previdência Social nestas últimas quatro décadas, bem como as investigações dos acidentes que ocorreram.
A capa do livro é composta com uma ilustração do artista plástico Elifas Andreato, que, aos 14 anos, trabalhava numa metalúrgica e criou arte com suas próprias digitais para alertar os trabalhadores sobre os riscos dos acidentes.
Participaram da organização do Ato, os seguintes sindicatos: metalúrgicos, comerciários, servidores, motoboys, motoristas, ferroviários, trabalhadores de concessionarias, frentistas, gráficos, vigilantes, trabalhadores em refeições coletivas, trabalhadores da construção civil. Bem como MODEPHAC – Movimento em Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Osasco, FeNAdv – Federação Nacional dos Advogados, Abrea – Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto, AEIMM – Associação dos Expostos e Intoxicado por Mercúrio Metálico e UAPO – União dos Aposentados, Pensionistas e Idosos de Osasco e Região.