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Santos (SP): Sindicato da estiva comemora 78 anos
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
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Exposição fotográfica, até sexta-feira (5), marca semana de festividade
Fundado em 1º de dezembro de 1930, poucos dias após o desfecho da chamada Revolução de 30, comandada por Getúlio Vargas, o Sindicato dos Estivadores de Santos comemora 78 anos num difícil momento da categoria, quando a vinculação da mão-de-obra ameaça substituir o trabalho avulso.
"Isso representaria mais de 3 mil famílias estivadoras sem condições de sobrevivência", diz o presidente do sindicato, Rodnei Oliveira da Silva, reeleito para o terceiro mandato, em 6 de novembro, com 1.399 votos e posse marcada para 2 de janeiro.
O sindicalista acha que "a estiva já passou por momentos muito mais difíceis, como as ditaduras do Estado Novo e do regime militar de 64. Adquirimos experiências que hoje aplicamos na luta contra um inimigo aparentemente mais cordial e, no entanto, muito perigoso para o nosso trabalho: o mercado globalizado e suas grandes corporações".
Rodnei entende que "as grandes empresas, onde se enquadram os grandes terminais portuários, promovem hoje uma nova forma de ditadura, com base na economia e não mais nos canhões. O capitalismo está num estágio mais cruel com os trabalhadores do que naqueles idos da fundação do sindicato".
Fotos da greve de 90 em exposição
Para comemorar o aniversário do sindicato, o estivador Leonel D’Aviz expõe, na sede da Rua dos Estivadores, até sexta-feira (5), 24 fotos, de sua autoria, da greve geral no porto, em fevereiro de 1991, quando o governo Collor, por meio do presidente da Codesp, Paulo Peltier, demitiu 5.400 trabalhadores.
Leonel ficou "impressionado com aquela luta" e fotografou diversos momentos de assembléias, passeatas, repressão policial e "a vitória final dos trabalhadores, apoiados pela cidade inteira, que foram readmitidos". Hoje aposentado, com 62 anos, ele trabalhou 35 anos com fotografia.
Patrono tenentista
Há 78 anos, da luta iniciada por cerca de 500 homens, com adesão de estivadores da companhia docas (CDS) e marítimos estrangeiros, todos fascinados com a experiência do trabalho exclusivamente a bordo, nasceu o Sindicato dos Estivadores de Santos.
Essa organização havia começado 11 anos antes, em 1919, com a criação da Sociedade dos Estivadores de Santos, que sucumbiu, em 1926, após violenta repressão policial ao longo de sete anos. Em 1929, a luta entre a empresa portuária concedida à família Guinlle por 80 anos e os trabalhadores atinge características de combate.
O patrono da categoria é Miguel Costa, tenentista da vencedora Revolução de 30, que chega ao poder, em São Paulo, dividida entre ele, secretário de segurança pública no Estado, e o interventor federal, João Alberto.
Os estivadores, como os demais trabalhadores da época, não tiveram qualquer participação no movimento dos ‘tenentes’, mas apoiaram-se em Miguel Costa com uma finalidade básica: diminuir a repressão sobre as lutas sindicais.
Vargas buscou apoio sindical
Que motivos levaram Miguel Costa, um militar, a apoiar ostensivamente os estivadores na fundação do sindicato? A resposta está na Revolução de 30 e no relacionamento do tenentismo como o movimento operário.
Apesar de ter contribuído em prol das reivindicações trabalhistas, os revolucionários de 1930, que levaram Getúlio Vargas ao poder pela primeira vez, tinham reduzidos vínculos com a classe trabalhadora.
Na verdade, a adesão proletária não interessava aos tenentistas e seus compromissos de elite. Desde sua fase conspiratória, o movimento militar não queria organizar o povo, mas somente obter apoio popular.
É nessa circunstância que o general Miguel Costa entra para a história da estiva de Santos. Sua ala, no racha do recém empossado governo, defendia a canalização de reivindicações operárias e até almejava organizar os trabalhadores sob sua influência.
As divergências entre Miguel Costa e o interventor paulista João Alberto, segundo diversos historiadores, já se pronunciavam na Coluna Prestes, onde ambos militaram.
CDS, a ‘tirana’
Os estivadores não tinham a quem recorrer naquele conturbado momento, onde não havia qualquer legislação protegendo trabalhadores de qualquer setor, especialmente do porto, onde se abrigava a mão-de-obra marginalizada por péssimas condições de trabalho e baixa remuneração.
A Companhia Docas de Santos (CDS), concedida por 80 anos à família Guinlle, era a grande tirana dos estivadores. A empresa privada queria a todo custo fazer os serviços portuários em terra e a bordo, mas enfrentava pesada resistência da estiva, que mantém até hoje a condição de mão-de-obra avulsa.
"Os Guinlle faziam marcação cerrada na categoria", lembra Rodnei Silva, "em confrontos nada amistosos, que resultaram em algumas baixas de ambas as partes". Para isso, segundo ele, a rica família contava com apoio das elites, principalmente exportadores, e de poderosos como o desafeto de Miguel Costa, o interventor João Alberto.
Violência marca 1919
O ano de 1919, quando o sindicalismo portuário ainda não era reconhecido institucionalmente, foi marcado por fatos históricos importantes. Sob orientação anarquista, os estivadores e doqueiros da CDS fizeram uma greve que provocou violenta repressão policial e o assassinato de um administrador da empresa, Ascelino Dantas.
A paralisação foi vitoriosa para os estivadores, que conseguiram jornada de oito horas, e derrota para 2.100 portuários da CDS, substituídos por fura-greves. Nesse mesmo ano de 1919, nasce a Sociedade dos Estivadores de Santos, fechada, em 1926, com forte ação policial.
Osvaldo Pacheco está na história
Osvaldo Pacheco da Silva, ex-presidente do sindicato, foi deputado federal constituinte eleito em 1945, pelo PCB, junto com próceres como o escritor Jorge Amado, todos cassados pelo presidente da República, general Eurico Gaspar Dutra, eleito no mesmo ano.
Pacheco foi presidente da Federação Nacional dos Estivadores e sempre militou no PCB. Foi um dos últimos presos políticos libertos, no presídio do Barro Branco, onde foi visitado, pouco antes da anistia de 1979, pelo então senador Teotônio Vilela (Arena e depois MDB). Patrícia Galvão, jornalista, escritora, poetisa, intelectual, Pagu, no PCB, também tinha ligação grande com o sindicato.