Apesar do perfil conservador e ufanista que marcava (e ainda marca) a música sertaneja, Vida de Operário, de Tonico e Tinoco, destoa da maioria, até mesmo entre a obra da dupla, com uma contundente crítica à posição social imposta ao trabalhador.
Interessante notar que, mesmo o gênero abordando a vida rural, e que especialmente na década de 1970, quando ainda não tinha sido totalmente engolido pela indústria cultural e mantinha suas raízes interioranas, mesmo assim, em Vida de Operário, Tonico e Tinoco não falam do trabalhador do campo, mas sim do operário fabril.
Com isso, a música mostra o estranhamento do camponês frente a uma nova realidade: a crescente urbanização e a necessidade de se enquadrar em um novo modelo de vida e de trabalho.
Vida de Operário
(Composição: Marumby, D. Hilário e Nhô Neco/1970)
Interprete: Tonico e Tinoco
Eu nasci no mundo, não sou milionário
Vou cumprindo a sina de ser operário
Eu vou desfiando meu triste rosário
E para trabalhar tenho meu horário
Eu moro distante de onde eu trabalho
Sou muito esforçado, nem um dia eu faio
Às três da manhã de casa eu saio
Eu pego o subúrbio e vou quebrando o gaio
Condução atrasa, é uma amolação
Se chego atrasado já vem o patrão
Com a cara feia me chama a atenção
E não quer saber da minha explicação
Se eu perco uma hora fico atrapalhado
Não ganho o domingo, não ganho o feriado
Chega o fim do mês o meu ordenado
Não dá pra pagar onde eu comprei fiado
Ordenado é pouco, passo meus apuro
Se não pago a Light já fico no escuro
Quando me machuco já vou pro seguro
E pra receber ainda é mais duro
Nossa vida é um drama, todo mundo chora
Sempre na esperança que as coisa melhorar
Vai passando o dia vai passando as hora
A promessa é boa, mas como demora
Fonte: Centro de Memória Sindical
Leia também: Erasmo Carlos canta: É preciso dar um jeito, meu amigo; música