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Juventude
Os jovens sem trabalho e estudo que serão desafio para próximo presidente
quinta-feira, 11 de outubro de 2018
Juventude
Paulo tem apenas 20 anos, mora na Vila Kennedy, comunidade na Zona Oeste do Rio de Janeiro, e concluiu o ensino médio no ano passado. Este ano deveria marcar seu ingresso em uma faculdade ou um curso de qualificação, ou ainda seus primeiros passos na vida profissional, mas ele se vê em um limbo de falta de oportunidade.
"Estou todo dia na busca, mas até agora nada", diz ele, que costuma sair distribuindo currículos com o amigo Mateus da Silva Lopes, também da Vila Kennedy.
"Consegui algumas entrevistas. Disseram que iam me ligar, mas nada", lamenta Mateus, de 20 anos. "A gente fica naquela esperança de conseguir, mas a ligação nunca chega."
Os dois amigos estão na mesma situação que outros 11 milhões de brasileiros de idades entre 15 e 29 anos que nem estudam e nem trabalham no Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os chamados "nem-nem".
O número equivale a quase um entre cada quatro jovens e aumentou 6% de 2016 para 2017, o que representa outros 619 mil jovens.
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil afirmam que desenvolver políticas para alavancar as trajetórias desses jovens é uma questão chave para a próxima Presidência, sobretudo diante do envelhecimento da população no país.
Paulo e Mateus sabem bem o que gostariam que o próximo presidente priorizasse: emprego, saúde, educação – e que tivesse um olhar especial para a geração que será o futuro do país.
"Muitas vezes os candidatos vêm nas nossas comunidades e prometem coisas que sabemos que não vão fazer. Eu não vejo uma preocupação deles com a nossa juventude. Se houvesse políticas pensando na gente, a gente teria mais oportunidade", diz Paulo.
"Acho importante, porque é por meio da juventude, de nós, que vão se formar os profissionais futuros, os médicos, advogados, publicitários."
A falta de oportunidades de emprego é um dos grandes obstáculos enfrentados pelos jovens "nem-nem", mas está longe de ser o único.
Em 2016, o Banco Mundial entrevistou 77 jovens de 18 a 25 anos de áreas urbanas e rurais de Pernambuco para entender o que está por trás do fenômeno.
O resultado é o estudo "Se já é difícil, imagina para mim", lançado em março deste ano pelas pesquisadoras Miriam Müller e Ana Luiza Machado, e que elenca uma série de barreiras estruturais enfrentadas por esses jovens.
São obstáculos relacionados a pobreza, educação deficiente, falta de estrutura familiar, de redes de apoio e de exemplos positivos e desigualdade de gênero. Ou todos eles juntos.
Müller afirma que a expressão "nem-nem" é "infeliz", porque gera um estigma de que jovens estariam nessa situação porque querem ou porque não correm atrás.
"O termo põe a culpa no jovem, que não está nesta situação porque deseja", ressalta Müller.
"Mesmo que aparentem não estudar nem trabalhar, são jovens que na grande maioria das vezes estão fazendo alguma coisa, buscando trabalhos ou bicos ou fazendo tarefas domésticas, ou fazendo um trabalho informal ou não remunerado. Essa definição estigmatiza um grupo que não merece isso, que é ativo e busca oportunidades."
Com um grupo de mais alguns amigos, Mateus e Paulo fazem rondas diárias por sites de emprego, se avisam quando abrem inscrições para vagas de trabalho, enfrentam filas em feiras de emprego e saem juntos para deixar seus currículos em empresas como grandes redes de varejo, lojas de rua, multinacionais.