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Brasil do Dialogo
quinta-feira, 26 de maio de 2011
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O Brasil vive um bom momento. Vivemos um ciclo virtuoso da economia e consolidamos o regime democrático. O crescimento econômico sustentado dos últimos anos gerou progresso social, o emprego cresceu, cresceu a massa de salários e o Estado recuperou, ao menos em parte, sua capacidade de fazer política social, cujos resultados foram fundamentais à recuperação econômica, o que inseriu o país na linha de frente dos negócios globais, colocando o Brasil no seleto grupo de países emergentes com o potencial de redefinir o mundo no século 21.
•Esta fase positiva, entretanto, não pode inebriar nossa visão nem alienar nossa capacidade de análise sobre que tipo de país e economia que queremos. O Brasil é um país continental, com mais de 190 milhões de habitantes. Para avançar decididamente rumo ao desenvolvimento econômico e social necessitaremos de uma economia diversificada e sofisticada, fortemente alicerçada num parque industrial competitivo, voltado para atender as potencialidades do nosso mercado interno e, mais que isso, capaz de competir num mercado internacional cada vez mais marcado pela concorrência baseada na inovação técnica e nos aumentos da produtividade.
•Dar esta substância industrial ao processo de desenvolvimento brasileiro é, para além da política deste ou aquele governo, um verdadeiro projeto de nação, de futuro. Mas o futuro se constrói no presente e já estamos fartos de ouvir falar que o Brasil é o país do futuro. O fato concreto é que nosso setor industrial tem perdido, ano após ano, participação no Produto Interno Bruto brasileiro. É crescente nosso déficit comercial de manufaturados: o Brasil importa mais produtos industriais que exporta. Vivemos um largo período onde o termo “política industrial” foi excomungado por autoridades governamentais.
•Qualquer análise superficial da política econômica dos anos recentes, nos anos da retomada do crescimento econômico, marcadamente a partir das gestões do Presidente Lula, indicam que convivemos com elevadas taxas de juros e com um câmbio desequilibrado, questões que estão na raiz da constante perda da participação da indústria no PIB, o que muitos chamam de “desindustrialização”.
•Para reverter este processo é necessário, portanto, fazer com que a taxa de juros brasileira convirja à taxa de juros internacional, de forma a possibilitar a desvalorização do real. É importante a adoção de medidas de defesa comercial contra importações predatórias, medidas para desburocratizar as exportações, melhorar nossa logística, incentivar importantes investimentos públicos e privados em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias para aplicação na produção, ou seja, um “mix” de política econômica, monetária, fiscal, de comércio exterior, de ciência e tecnologia para alavancar a indústria e o desenvolvimento nacional.
•Tudo isso, é claro, num ambiente de crescente respeito aos direitos dos trabalhadores e dos sindicatos. Queremos que o Brasil cresça par e passo com a conquista constante de melhores condições de vida e trabalho para todos. Quando aceitamos o desafio de realizar este Seminário com a Fiesp e a CUT e a elaboração do Acordo que entregaremos ao Governo, o fizemos dentro da compreensão do que é fundamental, o tal do projeto nacional que me referi acima, projeto que ficaria capenga e se inviabilizaria sem a necessária distribuição de renda, do aumento da participação dos salários na renda nacional, gerando um forte mercado interno para demandar a produção nacional da indústria, da agricultura, dos serviços, papel que os sindicatos e as centrais sindicais tem cumprido à risca.
•Portanto, queremos alavancar a indústria para gerar mais empregos de qualidade, mais emprego decente, com jornada reduzida, com menos rotatividade, com salários mais altos e melhores benefícios econômicos e sociais, com mais negociação coletiva, diálogo social, com representação sindical no local de trabalho, dentre tantos itens da nossa vasta, porém fundamental, pauta trabalhista.
•Queremos que esta iniciativa não se encerre aqui. Propomos institucionalizar um fórum onde governos, empresários e trabalhadores possam permanentemente negociar estas questões de política econômica, social e trabalhista. Vamos ao debates e, desde já, parabenizamos a todos pelo espírito democrático e por esta demonstração de patriotismo e maturidade.
João Carlos Gonçalves, Juruna
Secretário-geral da Força Sindical