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É Proibido Lucrar na Agricultura
sexta-feira, 25 de março de 2011
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Devido ao nosso instinto de sobrevivência aliado ao fato de que a necessidade fomenta a criatividade, podemos considerar que a atividade rural foi uma das primeiras planejadas pelo ser humano. Da simples exploração dos alimentos encontrados na natureza ao cultivo e manejo da terra, o homem foi se desenvolvendo e também fazendo o mesmo pela agricultura. Tempos depois, já na Idade Média, nós passamos a buscar maneiras de facilitar nosso trabalho, com a criação de ferramentas e uso da tração animal, como no caso da coalheira. E a partir disso, a agricultura vislumbrou uma fantástica evolução. Na modernidade as pesquisas começaram a trazer benefícios e, atualmente nós temos a tecnologia favorecendo uma produção em larga escala.
Até os tempos modernos a população no campo era superior ao povo urbano. Hoje as cidades detêm o maior número de habitantes. Antes era a população rural que decidia as eleições políticas. Os candidatos voltavam suas atenções de campanha para o meio rural. Hoje há um severo descaso por parte dos políticos, candidatos e eleitos, para com as coisas do campo. Não temos mais importância, porque para tudo o que vai se fazer, olha-se o número de títulos que estão em jogo.
O pequeno agricultor passa por uma situação complicada para produzir alimentos e gerir seu sustento e de sua família. Por mais que existam tecnologias ou máquinas de previsão, as alterações climáticas ainda são um problema: o excesso de chuvas alaga as plantações, ocasionando a perda de produção; o granizo estraga qualquer tipo de lavoura; a seca inibe o crescimento e a geração de frutos; os insumos estão na mão de poucas grandes empresas, ocasionando um controle sobre os preços praticados, minando o bolso do produtor; não há um sistema de extensão rural efetivo no país, deixando o agricultor praticamente sem assistência técnica; além da criação de ministérios e secretarias, com inúmeros cargos de confiança; mas não se contrata técnicos para orientar os agricultores familiares.
O produtor não pode parar de plantar. Sua sobrevivência e a demanda mundial de alimentos não permitem. Ainda assim, ele enfrenta os contratempos econômicos, nacionais e estrangeiros: a seca na Rússia prejudicou a safra mundial de trigo; a da Argentina danificou a cultura da soja, enquanto as torrenciais chuvas no Brasil inutilizaram a lavoura da oleaginosa no Mato Grosso e vizinhança. Quando os produtos agrícolas atingem um preço razoável, onde os produtores passam a obter algum lucro, inicia-se uma perseguição em cima da agricultura, alegando que ela é a responsável pela inflação. Quando no decorrer de alguns anos de observação, podemos constatar que são as tarifas governamentais que sobem muito mais do que os alimentos.
A mais nova perseguição provém da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação). Um de seus representantes aponta que a alta de valores dos alimentos é culpa do biodiesel. Esse combustível é uma alternativa para muitos produtores garantirem a comercialização de sua produção. Sem falar no favorecimento da questão ambiental. Eu sei que nos países pobres e importadores de alimentos as coisas ficam mais difíceis, mas isso poderia ser resolvido com bom senso dos países ricos, investindo menos em guerras e mais no desenvolvimento da agricultura nesses países, mas não fazem porque querem se aproveitar dessa situação também. O velho caso da exploração opressão-oprimido. Com as guerras e conflitos, há escassez de alimentos, pela destruição de estradas, nos cortes de financiamentos, na quebra da comercialização.
A discussão em torno do Código Florestal deixa os produtores em estado de alerta, pois de certo modo acaba por inibir o desenvolvimento da atividade, pois os agricultores não sabem quais serão os resultados futuros, com medo de perder mais uma parcela da sua propriedade para o meio ambiente, sendo que o homem do campo é o maior interessado na preservação da natureza, pois através dela que ele trabalha para garantir seu sustento.
Dessa forma só resta aos produtores rurais o abandono de suas atividades e contribuindo para o aumento dos milhões de bolsas-auxílio que temos no país. Esses aspectos indicam que o produtor não pode lucrar na atividade. A agricultura no Brasil é muito importante para ser tratada assim.
Braz Albertini é presidente da Fetaesp e idealizador da Agrifam