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Mulher não vota em mulher?
terça-feira, 6 de outubro de 2015
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Ao longo da história as mulheres brasileiras enfrentaram a desigualdade e violência de gênero e raça, mas sempre estiveram presentes em todos os processos revolucionários que transformaram as relações de gênero. A aquisição do direito ao voto em 1932, no Brasil, foi um grande passo, mas o conservadorismo e a composição de uma sociedade patriarcal, com privilégios ao papel dos homens dentro da sociedade e do espaço público de poder, ainda permanecem.
Por isso, não é possível analisarmos a razão de nós não estarmos no poder sem observarmos a construção histórica do papel das mulheres na sociedade, desde a infância, vítimas do papel de subalternidade.
Apesar de termos uma legislação bastante favorável para a igualdade de oportunidades e instrumentos de proteção social, continuamos distantes do poder. A participação das mulheres no primeiro escalão do governo, no Brasil, é aterrorizante: 11,4%. Na América Latina só ganhamos da Guatemala (6,7%) e do Haiti (11,1%).
Consagramos e ampliamos direitos fundamentais para todas as mulheres, como a CLT; a Constituição de 88; a Lei Maria da Penha; a PEC das Domésticas; as Convenções 100 e 111 da OIT, que tratam da igualdade de condições de trabalho e remuneração entre homens e mulheres e o combate à discriminação racial no ambiente de trabalho, respectivamente; as Conferências Mundiais da ONU em 1993 em Viena, 1994 no Cairo e em 1995 em Pequim, na China; sendo o Brasil signatário da Plataforma de Ação desta última, que resultou em um objetivo: alcançar a igualdade de gênero e raça e eliminar a discriminação contra mulheres e meninas em todo o mundo, tratando-se de um roteiro para o avanço da igualdade de oportunidades e do empoderamento das mulheres.
Mais de 50% do eleitorado brasileiro é formado por mulheres. Possuímos maior escolaridade que os homens, frequentamos mais tempo a escola, além de sermos maioria na população economicamente ativa. Apesar de todos esses dados, por que ainda recebemos 30% a menos que os homens, desempenhando a mesma função? Por que continuamos longe dos espaços de poder? Por que estamos sub-representadas no Congresso Nacional, nas Assembleias Legislativas, nas Câmaras de Vereadores e nas Prefeituras? Uma pergunta complexa.
O custo para participar da política é muito mais difícil para nós, isso é evidente. Reconheço que a maioria das mulheres não é educada para agir no espaço público de poder, mas sim no espaço privado da família. Reconheço, também, que é preciso superar uma gama de desafios e expectativas perante a sociedade, como se as nossas conquistas não fossem alcançadas por mérito e competência. Além disso, o processo eleitoral é violento: inexiste o financiamento de campanhas para as mulheres e programa de formação e preparação para as mulheres candidatas. Ou seja, os partidos políticos não investem nas mulheres.
O que explica a candidata do PT, Dilma Rousseff, vencer as eleições, em 2010, com mais voto dos homens? A resposta é que mulher não vota em mulher? Temos exemplos claros na Suécia, França e na vizinha Argentina do sentimento de importância das mulheres votarem no mesmo gênero. No Brasil…
É preciso refletir sobre a história da luta feminista. Conseguimos dar um grande passo no processo de inclusão das mulheres no mercado de trabalho nas últimas três décadas e na política, ao eleger a primeira mulher presidenta da República. Mas isso será apenas uma página nos livros de história se nós, mulheres, não tomarmos a frente desse processo de empoderamento e construirmos relações de gênero e raça mais equitativas.
Só nós podemos mudar esse cenário!
Nair Goulart, presidente da Força Sindical Bahia