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O momento é de cautela e de responsabilidade
quinta-feira, 3 de agosto de 2017
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Tivemos ontem, dia 2 de agosto de 2017, a votação na Câmara dos Deputados, sobre a abertura ou não da imediata investigação sobre a acusação de corrupção passiva do presidente Michel Temer. A permanência do presidente no poder, adiando a investigação para o fim do mandato, já era esperada.
Propaga-se aos quatro ventos que é a primeira vez na história que um presidente da República é formalmente denunciado por corrupção no exercício do mandato. Mas, me chama a atenção o fato que vivemos um tempo em que, na relação entre o poder político e o sistema judiciário, diversos fenômenos ocorrem pela primeira vez. É a primeira vez também que um ex-presidente, o Luís Inácio Lula da Silva, é acusado de um crime comum.
Não cabe aqui conjecturar sobre a pertinência e os exageros que envolvem as acusações contra Lula e contra Temer. Cabe sim pensar sobre como o poder judiciário tem se colocado sobre a sociedade de forma autoritária, desmedida e inflexível.
Por isso quero fazer uma reflexão sobre a situação em que vivemos e as possibilidades que se abririam se o processo contra o presidente fosse imediatamente instaurado, afastando-o de suas funções.
Sofremos com a aprovação da reforma trabalhista. Entretanto, no sistema capitalista, em que o mercado dita as regras, a reforma, desde que despontou como uma ameaça para os trabalhadores, se impôs como uma realidade inevitável. Quaisquer que fossem os políticos que tivessem no jogo eles se veriam pressionados a aprová-la sob pena de travar qualquer outro possível processo. Lutar contra a perda de direitos é, desta maneira, lutar contra o próprio sistema capitalista, hegemônico e consolidado mundialmente. Não digo, com isso, que devemos nos entregar, nos render e aceitar calados qualquer desmando. Precisamos lutar e lutamos não só contra perdas maiores, mas também por melhorias para os trabalhadores.
Esse é o nosso papel enquanto sindicalistas. Embora tenhamos nossos candidatos e nossas bandeiras políticas, como representantes dos trabalhadores tratamos, negociamos, às vezes brigamos, com quem está no governo executando as leis e projetos.
Desta forma é muito importante ter em mente que neste momento, após a aprovação da reforma trabalhista, está em curso um diálogo com o presidente Michel Temer, mediado pelo companheiro Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, deputado federal pelo Solidariedade, que visa minimizar perdas para os trabalhadores. Se outro presidente assumisse, iniciaríamos este dialogo a partir do zero.
Estou otimista quanto à Medida Provisória sobre a qual dialogamos e que foi elaborada de maneira democrática e representativa pelas centrais sindicais. Ela é realista, aponta para uma adequação das relações de trabalho à atualidade e prevê a sustentação do movimento sindical.
Atravessamos uma crise política e econômica que se iniciou logo após as eleições de 2014. Como representante de uma classe tenho que, ao lado dos meus representados, incentivar a cautela e a responsabilidade. Este não é um bom momento para grandes rupturas e incertezas.
Vale lembrar também que a votação de ontem não significa a absolvição ou o bloqueio da investigação sobre Temer. Se suspeitas recaem sobre ele, elas deverão ser investigadas sim, tão logo ele deixe a presidência da republica em janeiro de 2019.
Por ora o que temos de mais produtivo a fazer é concentrar forças na aprovação da MP e nos preparar para as eleições de 2018, quando poderemos eleger legítimos representantes dos trabalhadores, como o companheiro Paulinho, que muito tem feito para vencer esta crise sem prejuízo para o povo. Há muito trabalho pela frente!
Paulo Ferrari, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Edifícios e Condomínios de São Paulo – Sindifícios e da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Edifícios e Condomínios