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O trabalho produtivo e reprodutivo: uma reflexão para o dia 8 de março
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019
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As contribuições que destacam a especificidade do trabalho das mulheres no capitalismo ressaltam as principais tarefas atribuídas às mulheres nesse sistema de produção e reprodução: a reprodução biológica, a reprodução social e a reprodução ideológica da força de trabalho. Com isso, colocam-se três elementos centrais na abordagem do trabalho das mulheres.
O primeiro se refere a articulação entre produção e reprodução: o trabalho reprodutivo é indispensável para a reprodução e cuidados das pessoas e para a própria reprodução social que implica no acesso e controle de recursos econômicos de uma geração para outra mediante instituições como a família, além das próprias especificidades no interior do sistema capitalista que não podem ser explicadas apenas como herança de um passado patriarcal.
Um segundo aspecto, se refere as limitações das abordagens que indicam o trabalho de reprodução como responsável pelas menores oportunidades para as mulheres e a necessidade de aprofundar a conexão com o trabalho produtivo.
Em terceiro lugar, o trabalho reprodutivo tem uma tarefa especifica na reprodução da mão de obra passada, presente e futura, por meio da educação, das técnicas de produção, de socialização e da ideologia do trabalho que são realizadas pelas mulheres, a elas é atribuída a tarefa de educar os filhos para o mercado de trabalho e as filhas para o trabalho de reprodução no interior das famílias.
Portanto, o trabalho de reprodução não é algo estático, mas dinâmico, se transforma, se intensifica ou diminui conforme o ciclo de vida. Dessa forma, as mulheres serão integradas ao mundo produtivo sem reduzir as suas responsabilidades domésticas, criando um conflito que se expressa nas intermitências laborais, na integração em setores ou ocupações mais precárias, na maior vulnerabilidade em períodos de crise. Gera-se, assim, um paradoxo porque, ao mesmo tempo em que o capital não pode prescindir da força de trabalho das mulheres, ele reforça a exclusão por meio de práticas discriminatórias e excludentes. O desemprego é mais elevado entre as mulheres (51%) conforme dados do 2º trimestre de 2018 e a informalidade está mais presente entre as mulheres, de cada 100 mulheres negras que ocupam o mercado de trabalho, 53% estão na informalidade.
Um outro conjunto de reflexões surge quando analisamos as estruturas ocupacionais e setoriais em que os estereótipos de gênero se reproduzem. As mulheres são inseridas em áreas afeitas às suas características de gênero e, quando ampliam sua presença em estruturas segmentadas, são frequentemente discriminadas e os salários não acompanham as dinâmicas/variações do setor, perpetuando as desigualdades.
Portanto, os postos de trabalho não respondem somente as condições técnicas, mas sociais em um mercado de trabalho que não é aberto e nem homogêneo, mas “segmentado’ e que os postos de trabalho são ocupados por meio de um processo em que não há neutralidade do ponto de vista das características sociais dos indivíduos que oferecem sua capacidade de trabalho.
Os efeitos de tornar invisível o trabalho doméstico e de transferir para as mulheres os custos de reprodução são vistos pela forma como as mulheres se inserem no mundo produtivo e a necessidade de desenvolver estratégias que permitem sobreviver nestas duas esferas. As mulheres são forçadas a ingressar no mercado de trabalho em piores condições e aceitar ocupações que pagam menos.
Alterar as condições em que se dá a socialização do trabalho doméstico não remunerado, por meio, do compartilhamento das tarefas de reprodução social e alterar a estrutura produtiva de forma que a produção de bens públicos seja prioridade para libertar as pessoas de determinadas obrigações, principalmente com a tarefa de cuidados, são indicações que podem contribuir para uma nova perspectiva para as mulheres, não raras são as vezes em que as mulheres são compelidas a abandonarem seus empregos para se dedicarem a um membro da família enfermo ou que necessita de cuidados, ou até mesmo fazer escolhas que permitam melhorar a conciliação do trabalho produtivo e reprodutivo. Essas responsabilidades precisam ser compartilhadas com o poder público, mas para isso é necessário a construção de novos valores com menos mercado e mais cuidado com a vida humana.
Marilane Oliveira Teixeira, economista, doutora em desenvolvimento econômico e social, pesquisadora e assessora sindical