Uma das tragédias nacionais é o tratamento dispensado às mulheres. Essa cultura atrasada produz todo tipo de problema, a começar pela violência doméstica.
Quem já foi a uma palestra da dra. Rose Corrêa, a primeira delegada da mulher, sai chocado ante os números que ela mostra e as cenas sobre agressões, mortes e mutilações genitais.
O mercado de trabalho é outro demonstrativo concreto do preconceito. A mulher ganha menos, é a primeira a ser demitida e tem poucas chances na carreira. Em média, ganha 79,5% do que o homem.
O próprio governo – municipal, estadual ou federal – também mostra que a competência feminina não é valorizada. Quantas secretárias há nas cidades que você conhece? E no Estado? E quantas ministras temos no governo?
Esse atraso denuncia que o Brasil teima em não enxergar a realidade. Afinal, as mulheres são maioria da população e do próprio eleitorado. O País tem 51,5% de mulheres; o eleitorado feminino está em 52% do total.
O sindicalismo também enfrenta esse desafio e precisa aumentar o número de mulheres nas direções. Verdade que já conseguimos vários avanços, como extensão do período da licença-maternidade e equiparação salarial quando se trata de serviço igual. Mas tem muito chão pela frente.
Governo – Se houver oportunidades, a mulher mostra sua competência. E seu senso crítico. Veja: recente pesquisa do Vox Populi revela que, enquanto 35% dos homens apoiam o atual governo, 51% das mulheres reprovam a atuação de Bolsonaro no combate à Covid-19 e no enfrentamento da crise econômica.
Aliás, nestes tempos de pandemia, vemos a mulher ser mais ativa e destemida. Há hoje um grande número de trabalhadoras na linha de frente e combate ao coronavírus. E muitas delas, além do trabalho profissional pesado, têm que cuidar da casa. Com o envelhecimento da população, muitas trabalhadoras acumulam funções e ainda cuidam de pais idosos e parentes enfermos.
Sindicalismo – Quero, num próximo artigo, mostrar uma série de avanços para a mulher graças à atuação sindical na base ou junto a órgãos públicos. E também falar da presença da mulher na política. Como se sabe, em 1979 o Brasil aprovou a Lei da Anistia. E quem liderou essa luta cívica? A advogada e trabalhista histórica Therezinha Zerbini, que era amiga dos metalúrgicos e minha amiga pessoal.
Vivemos uma fase da vida nacional em que os ânimos estão exaltados e radicalizados. Em momentos assim, a Nação precisa mais da voz, da ponderação, do bom senso e do realismo da mulher. Façamos isso nós mesmos, dentro das nossas casas e nos locais de trabalho.
José Pereira dos Santos
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região
e secretário nacional de Formação da Força Sindical