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Um caminho para incluir o jovem no movimento sindical: ouvi-lo
quarta-feira, 19 de agosto de 2015
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Nos dias 1 e 2 de agosto de 2015 ocorreu na Praia Grande o 1º Encontro de Jovens Trabalhadores do setor químico da FEQUIMFAR, que contou com recursos tecnológicos de interação em tempo real entre participantes e palestrantes. O evento foi pensado e elaborado com o objetivo de dar voz à Juventude Química dentro do movimento sindical, utilizando novidades tecnológicas que melhor dialogam com as novas gerações, tanto para atrair a atenção do público como para incentivar uma participação efetiva. Os múltiplos projetores circundando mais de 120 jovens, e a própria disposição dos lugares no auditório, procuraram atender ao objetivo primeiro de inclusão.
As inovações não se limitaram ao formato e se estenderam também ao conteúdo do evento, pois a interação alcançada permitiu que os palestrantes conduzissem as exposições no sentido de sanar as expectativas, angústias e dúvidas da Juventude presente com relação aos Sindicatos. Quando perguntados sobre por que aceitaram participar do evento, 27% disseram querer conhecer melhor o movimento sindical, outros 24% mostraram interesse em atuar neste e, a maioria, com 41,7% disse participar por curiosidade e pelo desejo de passar um fim de semana diferente.
Ainda assim, ao serem questionados sobre como veem os sindicatos, 77% afirmaram considerá-los importantes, legítimos e necessários. O mesmo resultado foi expresso, quando perguntados sobre sua visão acerca do dirigente sindical, sendo que 66,6% expressaram vê-lo como atuante e interessado na representação dos trabalhadores. O resultado expressivo nos conduz a refletir sobre quais razões levaram ao afastamento da juventude do movimento sindical e a dificuldade deste em acessar as novas gerações.
Há pelo menos uma década, enquanto a maioria dos países no mundo enfrentou o desafio de reduzir as taxas de desemprego juvenil, o Brasil apresentou uma gradual queda dos níveis de desemprego entre a população jovem. Nítido que alguns fatores objetivos explicam este panorama geral. Primeiramente, os censos de 2000 e 2010, assim como a PNAD e outras pesquisas demográficas, mostram o processo de envelhecimento da população brasileira; ou seja, existem cada vez menos jovens ofertando sua mão de obra no mercado de trabalho. Até mesmo por esta razão, o conceito amplo de juventude como faixa etária teve de ser gradualmente readequado, de modo que hoje o movimento sindical entende por jovem os trabalhadores de até 35 anos.
Os dados da PNAD mostram que a queda de participação dos jovens no mercado de trabalho durante os últimos anos também se explica pelo aumento da renda média dos pais e pela crescente dedicação exclusiva aos estudos, desmentindo a tese que culpa a própria juventude e se limita a propagandear a “geração nem-nem”, que não estuda e não trabalha. De modo geral, o jovem inserido no mercado de trabalho está principalmente em busca de complementação da renda familiar, o que também pode ser entendido como atendimento às suas demandas pessoais de consumo. Quando o desemprego entre adultos se eleva, a renda familiar declina, impelindo o jovem a procurar um emprego, o que, por sua vez, tende a pressionar a taxa de desemprego total, fenômeno este vivido pelo país neste primeiro semestre de 2015.
Mas as dificuldades de acesso ao jovem por parte das organizações sindicais vão além dos mencionados elementos objetivos. A comunicação do movimento sindical com os jovens precisa ser requalificada diante das novas tecnologias e da agilidade das mídias digitais, meios pelos quais disseram se informar prioritariamente 75% da juventude química. O diálogo com a juventude também mostrou passar necessariamente pelo debate envolvendo questões de gênero, sexualidade, entretenimento e, em maiores detalhes, pelos direitos trabalhistas e sindicais.
Quando perguntados sobre o porquê do jovem pedir mais demissão que os trabalhadores com maior experiência, a resposta foi uníssona: “busca por melhores postos de trabalho”. A exigência crescente pela qualidade dos postos de trabalho por parte da juventude explica o salto na taxa de rotatividade entre jovens. Em 2013, enquanto a rotatividade no mercado de trabalho formal brasileiro por iniciativa exclusiva do empregador foi de 37%, a taxa de rotatividade dos jovens por iniciativa patronal foi de 53%, percentual este que se eleva para 80% quando consideramos também os pedidos de demissão e as justas-causa.
Ao ter em mente a imensa rotatividade dos jovens percebemos claramente que o papel cumprido por um espaço de diálogo e formação sindical para juventude ultrapassa os limites da própria categoria, consiste de um olhar para o futuro do movimento sindical como um todo. Este papel se cumpre, por exemplo, na apresentação aos jovens da trajetória de lutas por direitos e conquistas alcançadas pelo movimento sindical ao longo do processo histórico, mas com o cuidado de não tornar esta uma tarefa enfadonha ao próprio público, repleto de ansiedades e aspirações características das novas gerações.
Como visto, diante da queda de participação da juventude nas entidades sindicais, diversas teses foram elaboradas e medidas para enfrentar o desafio de inclusão dos jovens foram propostas. A FEQUIMFAR optou por dar voz e ouvir a própria juventude, movimento este que já havia se iniciado em seu 8º Congresso, quando a entidade convidou uma liderança estudantil para expor sua perspectiva acerca da integração entre universidades e sindicatos. Munidos da opinião e perspectiva dos jovens pretendemos dar continuidade as ações iniciadas, para que cada vez mais estas possam ser construídas por eles próprios.
Sergio Luiz Leite, Serginho, presidente da FEQUIMFAR e 1º secretário da Força Sindical