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Camelos também choram Geschichte vom weinenden Kamel
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
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Em contraste com o grau mais avançado do liberalismo econômico, a agricultura e pecuária familiar, a produção de matéria prima anterior ao processamento industrial, é a forma mais elementar de trabalho na sociedade humana. Atividades agrícolas e pecuárias, aliás, são determinantes na diferenciação entre o homem e a natureza. Elas sintetizam a capacidade humana de contemplar, apreender e transformas através do uso da razão. Mas não é por serem primitivas que estas atividades são simplórias ou atrasadas. Há aí um conhecimento essencial, em estado bruto. Uma condição existencial da raça humana, seus primeiros traços, sua pedra fundamental.
À parte esta divagação filosófica, pode-se pensar que hoje, ‘as coisas todas’ já foram dominadas pela modernização tecnológica e que a agricultura, predominante, aquela que realmente participa das transações comerciais capitalistas, perdeu sua aura bucólica. Além disso, o que existe pelos interiores do Brasil há de ser uma realidade totalmente diversa das inóspitas terras desérticas do interior chinês.
No entanto, a dialética explica que a reprodução do sistema econômico conta com a convivência de modelos de produção primitivos e avançados. Explica ainda que, como já foi dito, neste caso o primitivo não é necessariamente o ‘ignorante’. E tratamos aqui de conceitos essenciais. Elementos que buscam aprofundar a concepção de trabalho.
No filme Camelos também choram, produzido em pleno ano de 2003, no meio do vasto Deserto de Gobi, sul da Mongólia, quatro gerações de criadores de ovelhas vivem numa pequena aldeia. É época da cria de camelos, animal bastante estimado na região, principal meio de transporte dos nômades e provedor de lã. Mas um dos camelos está com dificuldades no parto, que acaba durando alguns dias e faz nascer um filhote grande, porém magro.
A mãe passa a rejeitá-lo, e nem com a intervenção direta da família a situação melhora, estando ele sobrevivendo apenas pelo leite ordenhado numa mamadeira. A mãe da família entende que é uma necessidade essencial o filhote mamar e ser querido pela mãe e, após consultar o conselho dos nômades do deserto, eles vêem que um ritual antigo precisa ser feito. Os dois filhos mais novos vão então à cidade, buscar um músico para o ritual.
Paisagens exóticas, lindamente desenhadas, enfeitam os cuidadosos rituais da família. É interessante ver como tudo sobrevive naquela cultura protegida pela aridez do clima. Os hábitos, as histórias, a sabedoria dos mais velhos, o respeito à infância, à mulher, à vida.
Apesar de seu estilo ficcional, o filme é um trabalho documental, patrocinado pela National Geographic. A família é verdadeira, vive naquele ambiente e daquela maneira.