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quinta-feira, 3 de dezembro de 2020
Força
Domingos foi um combatente pelos oprimidos e pela natureza
por Miguel Torres e João Carlos Juruna
Começamos dezembro deste ano atípico com a notícia da morte do nosso amigo Domingos Fernandes aos 75 anos.
Pelas injustiças crônicas que marcam a nossa história social, sua trajetória contrasta com a falta de reconhecimento. Quem o via sentado em algum café, ou caminhando por Pinheiros, onde morava, um senhor meio hippie, meio zen, imaginaria que aquele senhor esguio e que mantinha os cabelos longos e os inconfundíveis óculos redondos lutou tão bravamente contra a ditadura? Que fora uma das primeiras vozes a levantar por essas bandas do globo o necessário debate sobre as questões ambientais? Que fora ele um dos cabeças por trás da criação de grandes centrais sindicais de trabalhadores como a Força Sindical e a UGT?
Em seu Twitter, o jornalista Mário Magalhães ex-ombudsman, e autor da biografia de Marighella, escreveu que “Morreu Domingos Fernandes, um dos mais importantes guerrilheiros da Ação Libertadora Nacional, o primeiro comandante militar da ALN no Rio”. Escreveu também que Domingos foi um dos últimos companheiros a se encontrar com Carlos Marighella, um dia antes do assassinato do inimigo público número um da ditadura. Lembrou que “Domingos foi preso e penou na tortura, até a libertação/banimento no sequestro do embaixador alemão”. E que “de volta do exílio, tornou-se um dos pioneiros do Partido Verde”.
Foi através do debate ambiental que ele deu sua maior contribuição para a construção e formação da Força Sindical. Já em 1991 ajudou a criar a Eco Sindical, reunindo sindicalistas da recém criada central, nos preparando para a Conferência Rio 92. Ao lado da pioneira secretaria da mulher, as questões ambientais, levantadas por Domingos fez da Força uma central autenticamente pluralista, moderna, capaz de expandir o debate sindical para setores que até então o sindicalismo pouco explorava.
No artigo “Defesa do meio ambiente”, publicado na primeira revista da Força Sindical, de 1991, Domingos afirmou que:
“Os trabalhadores devem abraçar o movimento ecológico, como principais interessados no processo produtivo e na qualidade de vida dos locais de trabalho. A ecologia tem de sair da universidade e ir para as ruas, para as fábricas” e que “a importância da ecologia torna imperativo que os trabalhadores se organizem para discutir a questão do meio ambiente nas fábricas e ajudar na busca de soluções para os graves problemas ambientais que ameaçam a humanidade. É necessário que, nos acordos coletivos figurem cláusulas que garantam condições para a melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida”.
Suas palavras mostram que sua visão sobre o meio ambiente nada tinha de ingênua ou colonizada, trata-se de uma visão classista e sindical. Diferente de discursos vazios e divisionistas, que mais prejudicam que ajudam o movimento, ele conseguiu demonstrar que a questão ambiental passa também pela economia, pelos trabalhadores e pelo local de trabalho.
Como bom idealista, Domingos foi um abnegado e, talvez por isso, sua história seja do conhecimento de poucos. Mas suas ideias fizeram a diferença para muitos. Que sejam eternas! Domingos Presente!
Miguel Torres é presidente da Força Sindical
João Carlos Juruna é secretário geral da Força Sindical