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Meio Ambiente
Clima dará prejuízo de R$ 1,5 bilhão a Santos
sexta-feira, 18 de agosto de 2017
Meio Ambiente
Na cidade de Santos, no litoral paulista, as mudanças climáticas provocarão um aumento do nível do mar de pelo menos 18 centímetros até 2050, podendo chegar a até 45 centímetros em 2100. Se nenhuma obra de adaptação for feita, apenas com os danos aos imóveis, o município terá um prejuízo de, no mínimo, R$ 1,5 bilhão até o fim do século.
Essa é a conclusão do relatório final de um estudo que integra o Projeto Metrópole, iniciativa internacional que diagnosticou os impactos da elevação da maré em Santos, Broward, nos Estados Unidos, e Selsey, na Inglaterra. Os dados foram apresentados nesta quinta-feira, 17, em Santos pela equipe envolvida no projeto. Segundo o coordenador-geral do estudo, José Marengo, do Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden), não há mais escapatória: Santos precisará de obras de adaptação.
“Se nada for feito, o prejuízo será de pelo menos R$ 1,5 bilhão até 2100. Mas essa quantia pode ser bastante otimista, pois tem como base o valor venal das propriedades que sofrerão impactos. Estimamos que o prejuízo real chegue ao dobro, sem contar os custos humanos incalculáveis”, disse Marengo ao Estado. “As adaptações serão necessárias, não há como escapar. E não estamos falando sobre mudanças do clima em um futuro distante – é preciso entrar em ação agora.”
O estudo incluiu uma modelagem de quais áreas da cidade serão inundadas periodicamente em cenários de elevação das marés de 18 a 23 centímetros em 2050 e de 36 a 45 centímetros em 2100. “Mas essa elevação poderá chegar tranquilamente a dois metros durante a maré alta, as tempestades e as ressacas”, disse Marengo.
Áreas vulneráveis. O estudo mostra que a frequência das ressacas no litoral paulista está aumentando consideravelmente nas últimas décadas. Segundo Marengo, os impactos já são sentidos nas duas áreas mais vulneráveis da cidade, o valorizado bairro da Ponta da Praia e a zona noroeste.
Para evitar os prejuízos estimados, o município precisará investir pelo menos R$ 240 milhões, aponta o coordenador-geral. “Há várias formas de adaptação, como o aumento artificial da faixa de areia e obras de infraestrutura como diques e paredes de proteção. A população de Santos sugeriu muito fortemente uma adaptação com base em ecossistemas, que consiste na revitalização dos manguezais.”
Santos foi escolhida para o projeto, segundo Marengo, porque tem os dados mais completos sobre variações de marés e o georreferenciamento mais preciso entre as cidades litorâneas. Os métodos utilizados podem ser replicados em qualquer cidade da costa brasileira.
“Esse tipo de estudo pode ser replicado em qualquer área, mas é preciso ter a abertura que encontramos na cidade de Santos. A população, o prefeito e os secretários municipais participaram com muito interesse e dedicação”, afirmou Marengo.
De acordo com ele, a prefeitura de Santos, envolvida diretamente no estudo, criou em 2015 uma comissão municipal para mudanças climáticas e começou a elaborar um plano municipal de adaptação. Consultas públicas foram realizadas durante o processo e organizações não governamentais envolvidas com questões ambientais também participaram.
Segundo outra pesquisadora envolvida no projeto, Célia Regina de Gouveia Souza, do Instituto Geológico de São Paulo, a pesquisa deu ao poder público subsídios fundamentais para a adaptação à elevação das marés. “A situação é muito grave do ponto de vista das praias. A erosão costeira é muito grande, por causa do processo de expansão urbana associado à elevação do nível do mar e aos eventos extremos que estão aumentando em virtude das mudanças climáticas.”