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A exatidão é uma fraude
terça-feira, 21 de agosto de 2012
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Há hoje na sociedade, na academia e na mídia um culto exagerado da exatidão que é afirmada em números precisos e incontestáveis.
Recentemente ficamos sabendo pelos jornais quanto custa a criação de um filho, quantos são os candidatos nas próximas eleições que têm nomes exóticos e qual foi o prejuízo, ao governo e à sociedade, da greve dos funcionários. Todas as informações foram dadas com precisão numérica invejável, já que, diferentemente das pesquisas eleitorais, não houve margens de erro. A exatidão foi a garantia do acerto.
A busca da exatidão esconde uma ideologia autoritária e arbitrária em que os números desempenham o papel de gurus incontestados da opinião pública matematizada: filhos custam caro, não devemos tê-los; candidatos são folclóricos, a democracia é uma farsa; greves de funcionários são dispendiosas, devem ser proibidas.
Já nos esquecemos da última aula do grande matemático e filósofo inglês Alfred Whitehead quando afirmou, com sua experiência, que “a exatidão é uma fraude”.
Para convencer os leitores de como se pode torturar os números em defesa de uma tese, lembro a hilariante história de José Maria Alkmin, uma das pérolas do folclore político brasileiro, quando ele procurava, como advogado, consolar um condenado a trinta anos de cadeia que defendera: “Calma, meu filho. Nada é como a gente pensa da primeira vez. Não são trinta anos, são quinze. Se você se comportar bem, cumpre só quinze. Depois, esses quinze anos são feitos de dias e de noites. Dormindo não se está preso. Já são sete anos e meio. E por último, meu filho, você não vai cumprir esses sete anos e meio de uma vez só. Vão ser cumpridos dia a dia, suavemente”.
João Guilherme Vargas Neto, consultor sindical