A imponente Floresta Amazônica, tão cortejada pelo mundo e cobiçada e explorada por grupos criminosos, mais uma vez, virou cenário de um crime bárbaro. O assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips chocou o mundo pela covardia e atrocidade. Bruno, que trabalhou anos na Funai como respeitado especialista em comunidades indígenas, estava auxiliando Phillips, que iria publicar um livro sobre a Amazônia. Os dois foram caçados e mortos como animais. Os assassinos usaram armas de caça para deter as denúncias e calar os protetores do maior bioma do país. Mas o tiro saiu pela culatra, o grito de dor das vítimas, que tiveram os corpos esquartejados e queimados, ecoa pelo planeta como forma de luta e resistência.
Mesmo com a prisão de três acusados, os assassinatos ainda não estão resolvidos. Apesar da Polícia Federal apontar que o crime não tem mandantes e que os executores agiram sozinhos, os fatos históricos mostram que Bruno e Dom foram assassinados por este governo que desrespeita a vida, as leis e fomenta o desmatamento indiscriminado da Amazônia, inclusive em reservas indígenas. O dossiê “Fundação anti-indígena: um retrato da Funai sob o governo Bolsonaro”, divulgado por servidores do órgão mostra que das 39 Coordenações Regionais, apenas duas têm funcionários como titulares e as demais são ocupadas pelas forças armadas e policiais federais e militares. O órgão, hoje, militarizado é ocupado por pessoas sem experiência com indigenismo e distantes aos direitos indígenas.
Esse desmantelamento da Funai vem sendo orquestrado há muito tempo, antes mesmo de Bolsonaro se tornar presidente. Enquanto deputado federal, ele afirmou que a cavalaria brasileira foi incompetente por não ter dizimado os índios no passado. Em campanha, em 2018, Bolsonaro declarou que não moveria um centímetro a mais para demarcar terras indígenas. E tudo foi cumprido à risca. Em 2020, o presidente sancionou com vetos a lei que previa medidas de proteção para comunidades indígenas durante a pandemia de coronavírus. Entre os pontos vetados estavam: acesso das aldeias a água potável, materiais de higiene, leitos hospitalares e respiradores mecânicos. Desta forma fica claro que o governo sabia de tudo o que acontecia no Vale do Javari.
A violência contra ambientalistas que lutam pelo fim da exploração e do mercantilismo na Floresta Amazônica vem de longa data. Bruno Pereira e Dom Phillips engrossam a lista dos que perderam a vida por defenderem a Amazônia e as reservas indígenas, como Chico Mendes e a missionária católica Dorothy Mae Stang.
Venho aqui expressar minha indignação referente a esse escabroso assassinato. Nos últimos tempos, em especial nesse governo, o Brasil se tornou terra sem lei, da milícia e da maldade. A cada dia somos surpreendidos por situações cada vez piores, numa escala ascendente, que desafia a nossa capacidade de prever, prevenir e se defender.
O povo e as instituições precisam, urgentemente, se manifestar e se posicionar para combater essa escalada de violência e assassinatos permitidos e facilitados pelo estado brasileiro. Não podemos esperar as eleições. Precisamos nos organizar e protestar contra a barbárie desse governo. Bolsonaro é um destruidor do planeta, tudo que acontece na Amazônia afeta o mundo inteiro. Bolsonaro tem que ser responsabilizado e pagar por essa e outras atrocidades como as mais de 669 mil vidas perdidas para a Covid.
Vamos todos juntos fazer a nossa parte e exigir justiça em memória desses dois heróis vítima do descaso desse governo. Temos que espantar, de uma vez por todas, esse fantasma e exterminador da floresta e, principalmente, das nossas vidas.
Eusébio Pinto Neto
Presidente do Sinpospetro-RJ