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A indústria sucroalcooleira que bate recordes de produção e esquece seu trabalhador
segunda-feira, 15 de junho de 2015
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“Consumo de etanol cresce 32% e bate recorde no país”, “Etanol ‘rouba’ mercado da gasolina no 1º quadrimestre” (Valor Econômico em 02/06/2015), “Moagem de cana atinge 40,10 milhões de toneladas no centro-sul na segunda quinzena de maio, com usinas priorizando a produção de etanol hidratado” (UNICA em 09/06/2015).
Quem se depara com tais manchetes não imagina as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores da indústria sucroalcooleira do estado de São Paulo nas negociações salariais com data-base em 1º de maio de 2015. Fácil notar que a face empresarial do setor teve um novo fôlego diante da atual safra, crescendo amplamente e batendo recordes positivos. Enquanto aos trabalhadores em campanha salarial, passado mais de um mês da entrega da pauta de reivindicações, não foi oferecida nem ao menos a recomposição das perdas inflacionárias.
A movimentação de trabalhadores disponibilizada pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho e Emprego (CAGED-MTE) mostra que de janeiro a abril de 2015, no estado de São Paulo, o salário mensal médio de um trabalhador formal admitido foi 33% menor que o do trabalhador desligado, percentual por si só impressionante, mas agravado por uma taxa de rotatividade média do setor de 61%.
Ou seja, ocorre na indústria sucroalcooleira uma brutal redução da massa salarial, com a contratação de novos empregados por salários inferiores para exercerem as mesmas funções dos demitidos. Lembramos que estes números se referem somente aos trabalhadores inseridos na atividade industrial e não no cultivo da cana-de-açúcar, portanto, não se justificam pela sazonalidade, que apesar de existente, ameniza-se pela fase de ampla mecanização do processo produtivo que já vivi o estado de São Paulo.
Não desconsideramos as dificuldades enfrentadas pelo setor em 2014, as pequenas usinas se depararam com uma competitividade cada vez mais agressiva por parte dos grandes produtores, em um cenário de queda na moagem da cana-de-açúcar, redução na produção de açúcar e de etanol anidro (utilizado na mistura da gasolina). Todavia, a produção de etanol hidratado se expandiu, assim como se intensificou a concentração produtiva do setor sobre as grandes empresas. Sem nos aprofundar sobre os rendimentos da cogeração de energia e da venda do bagaço, ocorreram falências e fechamentos de usinas menores, mas a cana-de-açúcar não deixou de ser colhida e o trabalhador não deixou de se empenhar na produção.
Por fim, uma última manchete também nos chama a atenção: “Gestão ainda explica boa parte dos problemas do segmento” (Valor Econômico em 09/06/2015). Neste artigo explicita-se que as dificuldades enfrentadas pelo setor não são produto das flutuações nos preços do etanol e do açúcar, mas da “má gestão do negócio”. De qualquer forma, seja por uma razão ou por outra, os trabalhadores não merecem pagar essa conta! Pelo contrário, merecem o reconhecimento de sua importância para a atividade produtiva da indústria sucroalcooleira com um reajuste salarial digno, que além de recompor as perdas inflacionárias possa garantir ganhos reais!
Sergio Luiz Leite,presidente da FEQUIMFAR e 1º secretário da Força Sindical