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A pluralidade como opção
terça-feira, 19 de abril de 2016
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Nesses dias quentes que se seguem à votação do impeachment na Câmara dos Deputados e nos separam, sem dúvida, do fim do governo Dilma Rousseff para o início do governo Michel Temer, pesa na sociedade – e, naturalmente, dentro da Força Sindical – a preocupação com os rumos da economia e das políticas sociais.
Tenho manifestado, em textos publicados na mídia, em debates os mais diversos e em conversas no dia-a-dia com companheiros minha preocupação sobre o futuro. “Independentemente de quem ocupe a Presidência da República nos próximos meses, o foco do movimento sindical deve ser a luta pela manutenção de políticas como a da valorização do salário mínimo”, registrei, antes da decisão da Câmara, em artigo que foi reproduzido em sítios de internet e grupos de discussão.
Com total consciência da gravidade da situação que enfrentamos, me vejo no dever de me dirigir, agora, particularmente aos filiados e dirigentes da nossa Força Sindical.
É recorrente, em momentos de crise política como este, a emergência de rumores de que este ou aquele sindicato, por não concordarem com a opinião política de alguns de nossos dirigentes, abandonarão nossa Central, criada com muita luta e união. O que acontece agora já aconteceu antes.
Todos sabem minha posição política em defesa da continuidade do governo da Dilma Rousseff. Não é segredo para ninguém minha participação em atos em defesa do governo que ela ainda representa.
Em primeiro lugar, afirmo que, mesmo em posição política oposta a muitos dos dirigentes da Força, a começar pelo presidente Paulinho, jamais, em momento algum, sofri censuras, pressões ou represálias por manifestar minha posição dentro da central. Mais do que isso, minha convivência com esses companheiros que defendem posições políticas diferentes, por vezes contrárias à minha, é e sempre foi perfeitamente harmoniosa e proveitosa. Isso se chama prática de democracia interna, e é isso que, nos mais diferentes níveis de decisão e discussão, da base ao comando, a Força pratica.
A democracia interna e o respeito à pluralidade de pensamentos são, sem dúvida, uma das grandes forças da Força.
Isso é possível porque quando se trata da Central estamos acima de nossas diferenças políticas. Quando se trata da Força Sindical estamos unidos em defesa dos interesses dos trabalhadores.
Sei que a convivência com pessoas de diferentes correntes políticas nem sempre é fácil e que, em momentos como o que passamos hoje, há uma grande tensão em torno disso. Mas, pela minha própria experiência como secretário-geral, sei, e quero afiançar, que há honesta disposição por parte da nossa direção nacional em exercitar essa convivência da melhor maneira. Isso, para mim, é uma verdadeira atitude democrática. É um respeito ao nosso ideal de pluralidade firmado há 25 anos, no primeiro congresso da Força Sindical.
Em nossa história atravessamos momentos difíceis, que muitas vezes dividiram opiniões na Central. Passamos pela histórica privatização da Telebrás, pela eleição do presidente Lula e vivemos agora por esta situação em que parte dos sindicalistas da Força defende o mandato de Dilma e outra parte defende o Impeachment. Tenho confiança que passaremos por isso, mais uma vez, juntos.
Abandonar a Central por não aceitar divergência política seria trair nossos princípios fundamentais. Na Força Sindical sempre houve espaço e liberdade para todos. Não por isso somos desprovidos de ideologia. Ao contrário, exercemos uma convivência intensa com representantes de diversos partidos, sempre com os olhos na realidade.
Certa vez, por ocasião de um evento do 1º de Maio, afirmei que “orquestrar esta pluralidade ideológica é um duro trabalho. Ela se faz presente no dia a dia da Central, e não nos divide, pelo contrário, nos alimenta. Treina nossos ouvidos e nossa capacidade de pensar sem dogmas. Mantém nossos pés no chão”.
Esta afirmação cabe perfeitamente hoje, 19 de abril de 2016. Por isso, conclamo a todos os diretores a contribuir ao debate político dentro da Central. O debate só nos engrandece. Todos construímos a Central e, assim, a Força é de todos nós!
João Carlos Gonçalves (Juruna) é metalúrgico, secretário-geral da Força Sindical e vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo