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A singularidade brasileira
sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
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A década dos anos 80 do século passado é singular na história recente do Brasil pelo acúmulo de acontecimentos importantes, pelas participações maciças da população, pela coexistência nela de uma coisa e seu contrário e pela incapacidade manifesta de seus protagonistas entenderem “o que estava acontecendo agora” e o que viria a seguir.
Ela é marcada pela crise da ditadura militar (que já não pode fazer o que quer, mas ainda pode impedir que se faça o que se quer) e pela morte lenta do modelo socialista soviético (a tragédia de Chernobyl é de 1986 e a retirada russa do Afeganistão termina em 1989).
Na luta pela democracia é, provavelmente, a década em que houve a mais intensa e continuada mobilização da sociedade, inclusive eleitoral, com destaque especial para a mobilização e luta dos trabalhadores, com suas greves e congressos. A pauta da sociedade casou-se com a pauta sindical.
Em uníssono os brasileiros quiseram e conquistaram a democracia, mas os resultados foram, como é de praxe em nossa história, um acomodamento entre o impulso dos movimentos e a inércia das instituições.
O ano de 1983 que, fora do centro, divide a década, foi aquele em que a oposição (vitoriosa nas eleições estaduais de 1982) e o movimento sindical derrotaram no Congresso Nacional, pela primeira vez, um decreto-lei da ditadura (o 2.045, de arrocho salarial) e o movimento sindical paulista realizou a greve geral unitária de 21 de julho. Mas os trabalhadores assistiram também, neste ano, a divisão orgânica de seu movimento com o congresso, em agosto, da CUT em São Bernardo e a CONCLAT, em novembro, na Praia Grande, que daria lugar à CGT.
Em 1984 a imensa campanha popular pelas diretas é derrotada por falta de votos no Congresso, mas o povo acolhe o Colégio Eleitoral e torna vitoriosa a oposição. O processo constituinte se inicia sob um signo de tragédia (a morte de Tancredo) e com muitas incompreensões (havia quem o chamasse de “prostituinte”), mas conseguiu produzir a mais avançada Constituição de nossa história, com uma dupla institucionalização no que se refere aos trabalhadores: os direitos trabalhistas e os direitos sindicais unicitários.
As eleições presidenciais de 1989, com 22 candidatos, foram vencidas, na novidade de um segundo turno, por um arrivista que derrotou o candidato do PT, partido que surgira, junto com a renovação sindical, no começo da década.
Abrem-se os anos de predomínio do neoliberalismo.
João Guilherme Vargas Neto, consultor sindical