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Acolher os migrantes
quinta-feira, 10 de setembro de 2015
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Chocou a todos a cena do garoto sírio morto e estendido numa praia da Turquia. A imagem correu o mundo e gerou forte indignação entre pessoas, entidades e vários governos.
Além de chocar e comover, a cena serviu para chamar a atenção a respeito do grave problema da imigração. Antes da morte do menino Aylan, já tínhamos assistido ao naufrágio de barcos com migrantes e ao tratamento desumano dado a pessoas que tentavam entrar em países europeus. Porém, nada choca mais que a morte trágica de uma criança inocente.
As pessoas deixam sua terra natal por umas poucas razões, entre elas fome, questões políticas ou perseguição religiosa. As famílias só abandonam seu local de origem pela imposição de forças acima de sua resistência. No caso dos migrantes do Norte da África e da Síria, é por tudo isso junto: fome, guerra, perseguições. Migrar, portanto, é a forma de escapar da miséria ou da morte e buscar uma nova chance de reconstruir a vida.
A Europa, felizmente, acordou para a dura realidade da migração. A forte solidariedade das pessoas e organizações sociais, bem como de vários governantes, isolou os setores racistas ou mesmo neonazistas, hostis a estrangeiros. A recepção dos migrantes terá um outro efeito benéfico, pois ajudará a desarmar as máfias que estimulam a migração ilegal e praticam todo tipo de extorsão contra as vítimas.
O Brasil é um país miscigenado e povoado por estrangeiros. A capital paulista é, por excelência, uma terra de migrantes. Eu mesmo, quando saí dos fundões de Minas Gerais para tentar a vida na cidade grande, vivi a dura condição de migrante, embora estivesse dentro do meu País, falando a mesma língua e tendo os mesmos costumes da imensa maioria da população. Fácil não foi. Mas certamente minha condição foi muito melhor do que a daqueles infelizes que saem de seus países para tentar a vida em terras estranhas.
Todos pertencemos à mesma espécie. Todos somos humanos e irmãos, ainda que cada um vivenciando sua religião e sua cultura. Somos viajantes da mesma nave. Aliás, essa lição está na própria história do Dilúvio. Conta-se que Deus pediu a Noé que colocasse na arca um casal de cada bicho. Durante 40 dias e 40 noites, todos tiveram de viver em harmonia, até que as águas baixassem.
A recente onda de migração para a Europa não é fenômeno novo. Tempos atrás era a Europa, tomada por guerras e crises, que enviava levas para as Américas e outras regiões. A história de Noé é ainda mais velha. E ela nos ensina: temos de ser tolerantes e receptivos, pois, embora com as diferenças sociais, religiosas, políticas e culturais, estamos todos no mesmo barco.
José Pereira dos Santos
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região