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Adonis: A história de um companheiro digno e corajoso
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
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Hoje foi um dia triste. Fui ao velório do querido amigo e companheiro de lutas Adonis Bernardes, secretário-geral do sindicato dos metalúrgicos de Santo André.
Conheço Adonis há mais de quarenta anos. Começamos juntos no movimento apesar de morarmos em cidades diferentes. Ele em Santo André e eu em São Vicente, aqui no Estado de São Paulo.
Éramos como milhares de jovens trabalhadores da periferia, que nos finais de semana participavam de grupos de jovens das paróquias católicas.
Por volta do ano de 1971 fomos convidados a responder uma pesquisa sobre o jovem que trabalha e estuda. Era uma pesquisa simples, feita em mimeógrafo, elaborada e distribuida por jovens, um pouco mais velhos que nós. A ideia era que quem respondesse também a distribuisse para amigos e conhecidos. Uma atividade simples, mas que foi a porta de entrada, do Adonis e minha para a militância social.
Foi assim que começamos a discutir o mundo do trabalho. A partir de nós mesmos, julgando o que era certo ou errado naquela situação, de acordo com a nossa capacidade de compreensão naquela época. Tirávamos lições e decidíamos o quê fazer. Éramos desta forma, treinados na prática a fazer o famoso método “Ver, Julgar e Agir”.
Iniciamos assim a nossa militância, não através de discussões teóricas, mas buscando compreender a teoria a partir da realidade concreta.
Claro que éramos também incentivados a ler livros da história de nosso povo, os romances de Jorge Amado, A mãe, de Máximo Gorki, São Bernardo, de Graciliano Ramos e os jornais diários, etc…
Posso dizer, com isso, que a Juventude Operária Católica (JOC) foi uma grande escola para todos os que dela participaram.
Creio que essa militância igrejeira, espalhada pelo nosso País muito contribuiu com o movimento social. Deste processo surgiu muita gente boa que depois foi para os Sindicatos, para os partidos, para os governos, nas Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas, todos iniciados por uma simples pesquisa em um bairro popular. Gente boa como o Adonis Bernardes.
Hoje, em seu enterro, um senhor exclamou: “Esse cumpriu o seu papel!”. Naquela hora me veio à cabeça uma passagem da II Epístola de São Paulo, apóstolo, a Timóteo (Cap 4, vers. de 6 a 8):
“Quanto a mim, estou a ponto de ser imolado e o instante da minha libertação se aproxima. Combatí o bom combate, terminei minha carreira, guardei a fé. Resta-me agora receber a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas a todo aqueles que aguardam com amor a sua Aparição”
Saudade do tempo que a Igreja Católica fazia esse papel!
Viva Adonis e todos aqueles que foram comprometidos com a causa popular nesta vida!
19 de setembro de 2013
João Carlos Gonçalves, Juruna,
Secretário-geral da Força Sindical