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Como vai ser?
sexta-feira, 24 de abril de 2020
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A antecipação de cenários preestabelecidos poderá ser um exercício de mera adivinhação, tendo em conta a forma brutal como a pandemia do covid-19 se propagou entre nós – portugueses e no mundo, no início do século XXI, quando a Humanidade julgava ter já conhecimento e controlo suficientes sobre grande parte das bactérias que nos acompanham desde o nosso nascimento. Mas parece que não é bem assim, e as mutações deste vírus comprovam-no, com uma taxa de letalidade média na União Europeia que ultrapassa os 8%, mas que se situa em Portugal na orla dos 3%.
Ainda estamos a viver na fase da incerteza, face à inexistência de uma vacina, ou antivírico, que permita um combate eficaz a esta estirpe viral, o que provoca dúvidas, prudência e prevenção na reabertura de uma economia fechada há mais de um mês, com consequências dramáticas, que podem ser trágicas, se não for mantido um estado de alerta constante na utilização de máscaras, luvas, distanciamento social, lavagens de mãos, uso de soluções alcoólicas desinfetantes nas nossas casas, nos locais de trabalho e nos locais públicos, numa altura em que se vaticina o regresso de centenas de milhares de trabalhadores aos seus locais de trabalho.
Mas as empresas têm de reabrir, com a introdução de doses de confiança nos trabalhadores, com o máximo de segurança para si próprios, as suas famílias e para os outros com quem nos cruzamos na empresa, nos transportes e na rua.
Esta pandemia provocou já uma subida drástica do número de desempregados, sejam trabalhadores por conta de outrem, a recibo verde, ou sócios gerentes de micro empresas, cujas vidas levarão tempo a refazer-se, mas a que o Estado Social que somos não permite que fiquem sem apoios para subsistir e regressar ao trabalho.
O sistema simplificado de layoff atirou para casa centenas de milhar de trabalhadores, com perda de rendimentos mensais de 34% dos seus salários, o que significa redução de poder de compra, ainda que temporário, mas que felizmente hão de regressar ao trabalho e recuperar o tempo e o rendimento perdidos – mas mantiveram o emprego.
E o teletrabalho veio para ficar.
Esta é certamente uma convicção que esta pandemia nos trouxe – uma alteração na forma como trabalhamos, que irá permanecer em muitos milhares de casos, onde o Código do Trabalho deverá aperfeiçoar a norma que o rege, por forma a que não subsistam dúvidas acerca dos direitos e deveres das partes sobre horários de trabalho, formas de supervisão, conceito de retribuição e todas as cláusulas que a integram.
E o teletrabalho trouxe outra novidade – a adaptação de milhões de trabalhadores e empresários a lidar com ferramentas de comunicação áudio e vídeo, as vídeo e teleconferências, o ensino e a formação profissional à distância, que obrigou o próprio Estado a desenvolver e instalar, via IEFP, protocolos e plataformas informáticas.
E ao falarmos na Educação, refira-se o regresso da Tele-escola através de canais de televisão, que à moda dos anos 60 e início de 70, era um meio de disseminar o conhecimento aos alunos a partir de casa.
Muitas outras coisas e aspetos da nossa vida irão ser alterados. Designadamente a vida social, a consciencialização da relevância da área da saúde, dos seus profissionais, a centralidade do SNS e a importância do investimento a fazer em todos os seus serviços, equipamentos e profissionais, mas também a atenção que passam a merecer na sociedade os lares de idosos e os apoios aos mais velhos, a consideração e respeito pelos bombeiros, INEM, proteção civil, transportes, produtos alimentares, cadeias de distribuição, correios, energia, e todas as entidades públicas e privadas que, em tempo de perigo de contágio, honraram as suas profissões de risco e assumiram que salvar os seus concidadãos é a prioridade das suas vidas.
Termino com o lema dos Bombeiros portugueses: ‘Vida por vida’. Ainda que em tempos de incerteza, dúvida e medo, esse lema vai permanecer intacto.
Haja confiança para voltarmos, todos à normalidade.
Carlos Silva
Secretário-geral da UGT