A semana apresentou o quadro estatístico dos primeiros meses do ano em termos da dinâmica econômica e do emprego. Em síntese, uma economia frágil e com baixo vigor repõem ocupações precárias com queda dos rendimentos do trabalho.
Observa-se a retomada das atividades nos setores produtivos, em especial no setor de serviços, após a interrupção das restrições sanitárias à mobilidade, dos cuidados básicos com aglomerações e do uso de máscaras. O fim da pandemia não ocorreu de farto, está longe de ocorrer e essa flexibilização já repercute no aumento das internações e mortes.
O IBGE indicou que houve um crescimento de 1% do PIB – Produto Interno Bruto – no primeiro trimestre em relação ao quarto trimestre do ano anterior. Esse movimento foi puxado pela retomada das atividades paralisadas no setor de serviços, pelo consumo das famílias e pelas exportações. Esses três vetores não são capazes de dar a tração suficiente para sustentar o incremento da atividade econômica, ainda mais porque o arrocho da renda do trabalho debilita o consumo das famílias e a demanda oriunda do consumo das famílias.
A questão central é que essa melhora de agora já carrega a redução das expectativas sobre o crescimento de futuro porque a economia já enfrenta um contexto situacional adverso em decorrência do cenário internacional (guerra, combustível, alimentos, insumos para agricultura e indústria), da carestia (o alto custo de vida de alimentos, energia, gás de cozinha, energia elétrica), da alta inflação (queda do salário real), da forte alta da taxa Selic que atua como severo freio adicional sobre a já lenta economia. O crescimento agora já reduz a dinâmica futura, indicando um crescimento econômico médio frágil que deve variar entre 1 % e 1,5% ao ano!
Isso se deve porque as locomotivas que podem sustentar um crescimento econômico consistente estão debilitadas. De um lado, a indústria começa o ano sem tração ou em queda (-1,5%) se comparada com o mesmo período do ano anterior, com impacto mais severo sobre a indústria da transformação. O investimento produtivo em máquinas, construção e inovação teve contração de 7,2% se comparado ao mesmo trimestre do ano anterior, representando uma taxa de investimento em relação ao PIB de 18,7%, bem abaixo da taxa de 25% considerada uma meta necessária para ampliar a capacidade produtiva do país.
Sem tração a economia derrapa, o que pode ser observado na dinâmica do mundo do trabalho. Os dados que a PNAD IBGE trouxe está semana mostra que a economia repôs boa parte dos postos de trabalho encerrados ou suspensos pelas medidas de combate à pandemia. A taxa de desemprego recuou para 10,5% no trimestre encerrado em abril, mas ainda há um contingente de 11,3 milhões de desocupados.
A economia mobiliza a ocupação de cerca de 96,5 milhões de pessoas, das quais 35,2 milhões são assalariados com carteira de trabalho assinada (houve alta de 1,1% nesse contingente). Já os trabalhadores sem carteira assinada somam 12,5 milhões (estável), os trabalhadores por conta própria somam 25,5 milhões (estável). Do total de ocupados, 38,7 milhões estão na informalidade (aumento de 0,5%).
Essa dinâmica de reposição de boa parte dos postos de trabalho vem sendo acompanhada por uma queda no rendimento mensal real médio desde o início de 2020 da ordem de 13%. Isso é muito grave porque, mesmo com os mais de 8 milhões de empregos repostos no último ano, a massa de rendimentos não cresce.
O quadro prospectivo indica uma dinâmica frágil em decorrências dos fatores indicados acima, o que repercutirá sobre a geração de empregos futuros, com salários rebaixados a arrochados pela alta inflação. Desocupação de longa duração, insuficiência da renda, desproteção social, laboral e previdenciária, desalento e inatividade, precariedade e insegurança são fenômenos que se tornaram estruturais na vida da classe que vive do trabalho.
Essa situação contrasta violentamente com os indicadores de distribuição de lucros para os acionistas e de constituição e ampliação das fortunas dos novos bilionários. Desigualdades que se alastram e que matam.
Clemente Ganz Lúcio
sociólogo, consultor e professor, assessor das Centrais Sindicais