No afã de reduzir os custos na folha de pagamento, nos últimos 30 anos, as grandes corporações desenvolveram técnicas de RH e Relações Sindicais que afetaram a forma de organização da nossa sociedade, no que se refere ao futuro socioeconômico dos trabalhadores. Essas alterações focaram em atender objetivos imediatos dos próprios trabalhadores, sem a devida responsabilidade com o futuro, que é o hoje.
Notadamente, as empresas transferiram parcela significativa dos salários para benefícios e remuneração indireta. Assim, esse deslocamento dos recursos dos salários para Vale-Refeição (VR), Vale Alimentação (VA), Participação nos Lucros e Resultados (PLR), Auxílio-Creche, Auxílio-Bolsa de Estudos, plano de saúde, abonos de produtividade, entre outros, têm o claro objetivo de evitar pagamentos de encargos trabalhistas, reduzindo, assim, os custos da folha de pagamento. Ao frear os aumentos salariais e direcionarem maiores aumentos aos benefícios e remunerações indiretas, as empresas geram um déficit futuro no campo previdenciário.
Qualquer trabalhador com salário inferior a quatro mil reais na sua média de arrecadação para fins de aposentação no INSS, ao atingir todos os critérios de aposentadoria, tem sérios problemas na manutenção do seu padrão de vida, perdendo, de forma abrupta, a qualidade, por redução de massa remuneratória mensal e benefícios complementares. Essas variáveis e complementos remuneratórios do trabalho deverão compor o cálculo para remuneração futura das aposentadorias dos trabalhadores, o quanto antes, ou a dignidade estará em XEQUE – MATE para a classe trabalhadora.
Por conta deste desequilíbrio de realidades, muitos (mas muitos trabalhadores), optam em retardar sua jubilação. Nos dias atuais, os idosos são os grandes provedores das famílias e se veem numa encruzilhada, ao ter que decidir entre a tão sonhada e merecida aposentadoria, ou pela função de garantidor das famílias. Essa decisão os leva, na sua maioria, a estender sua atuação no mercado de trabalho para sobreviver e também dar continuidade à dignidade de sua família.
Nenhum cidadão deveria passar por tão cruel destino: virar escravo do trabalho e trabalhar até a morte. Existem atividades degradantes que, por si, são perigosíssimas e danosas à vida. Sendo assim, temos que refletir sobre os efeitos dessas políticas empresariais, que encontram respaldo em mudanças legislativas, que se dizem “modernizações”.
A valorização salarial é fundamental para garantir a dignidade da pessoa humana, de forma ampla e irrestrita, no decorrer da sua carreira profissional e até toda sua aposentadoria. Valorizar os salários hoje se faz necessário para evitar graves problemas socioeconômicos amanhã.
Hoje, um salário inferior a R$ 2.640,00 não garante a mínima condição para o trabalhador ter sua vida digna. O valor não atende o básico do básico, não chega nem próximo das exigências constitucionais. Nesse contexto terrível, quem consegue alcançar o direito à aposentadoria depara-se com um triste dilema: a insuficiência de recursos para viver.
Ao não ter tranquilidade, boa alimentação, acesso a cuidados de saúde e nem qualidade de vida, os nossos aposentados têm suas vidas reduzidas sensivelmente, por falta de condições dignas.
Nossos aposentados merecem viver, nossos aposentados merecem viver bem e dignamente!!!
Eduardo Annunciato – Chicão
Presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Energia, Água e Meio Ambiente – FENATEMA e do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo – STIEESP