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É preciso ter raça
quarta-feira, 22 de novembro de 2017
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Segunda, 20, boa parte das cidades brasileiras comemorou o Dia da Consciência Negra. Além do feriado, houve manifestações culturais, atos políticos, debates e outros eventos sobre a questão racial. O vinte de novembro reverencia a memória de Zumbi, o líder do Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga, Alagoas.
O Brasil é mestiço. Aqui, existe miscigenação entre brancos e negros, brancos e índios, negros e índios e também mistura entre os brasileiros e os europeus que migraram em massa ao nosso País nas últimas décadas do século 19 e nas primeiras do século 20.
Essa miscigenação é a marca mais acentuada do povo brasileiro, gerando uma mistura cultural inédita, criativa e admirada no mundo todo. Ela é tão forte que engloba as próprias religiões, com o chamado sincretismo.
Porém, essa mistura altamente criativa não é suficiente pra apagar fortes traços de racismo e discriminação que ainda persistem, principalmente contra os negros, que formam a base mais pobre e excluída da sociedade brasileira.
O racismo é forte em muitos setores. Mas eu aponto duas áreas em que ele é flagrante. Uma é o mercado de trabalho, onde o negro ganha menos e a mulher negra ganha muito menos ainda. Negros e negras têm poucas oportunidades de promoção profissional, inclusive no serviço público, cujos cargos de alto escalão são quase sempre ocupados por brancos. Esses companheiros e companheiras também são sempre os últimos a serem contratados e os primeiros na hora da demissão.
Outra área onde o racismo é violento é na segurança pública. Sem igualdade de oportunidades, com baixa escolaridade, sem acesso a empregos de qualidade, muitos afrodescendentes são empurrados para a marginalidade. Nossas cadeias estão repletas de negros e pardos. E as estatísticas mostram que a população negra é a principal vítima da violência policial ou dos esquadrões da morte.
Fixar um feriado da Consciência Negra não vai mudar esse quadro. Mas a data deve ser entendida como um momento para reflexão, debate e autocrítica. O Brasil detém a vergonhosa marca de ter sido o último país a libertar os escravos. Temos uma dívida histórica e social com os descendentes dos escravos. Conhecer nossa história, reconhecer os erros, adotar políticas de inclusão e promover a tolerância racial são formas de quitar parte dessa dívida.
Autores – Abdias do Nascimento, Darcy Ribeiro e Solano Trindade são importantes referências sobre raça, cultura e negritude. Vale ler a obra desses brasileiros.
José Pereira dos Santos
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região
e secretário nacional de Formação Sindical da Força Sindical
E-mail: pereira@metalurgico.org.br
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