O eletricitário é aquele que enfrenta a chuva, o calor, a madrugada e o risco para garantir que a luz não falte nas casas, nos hospitais, nas escolas, nas cidades. É o trabalhador que carrega nas mãos a energia que move o Brasil. E é por isso que o Sindicato dos Eletricitários de São Paulo se orgulha de representar essa categoria com tanta história, técnica e compromisso.
Nos últimos anos, conquistamos avanços concretos: aumentos reais, manutenção de direitos, benefícios sociais ampliados e melhores condições de trabalho. Cada uma dessas vitórias foi fruto da mobilização coletiva, da organização sindical e da consciência de que nada nos foi dado — tudo foi conquistado.
Mas se o 17 de outubro é dia de comemorar, é também um momento de reflexão. O setor elétrico, assim como o mundo do trabalho, vive um processo de transformação profunda. A digitalização, a automação, as mudanças climáticas e a transição energética estão redesenhando o mapa da economia e das relações de produção.
E a pergunta que não quer calar é: quem vai se beneficiar dessas transformações?
Será que a transição energética vai gerar empregos de qualidade e fortalecer a soberania nacional? Ou veremos o mesmo roteiro de sempre — lucros concentrados nas grandes corporações, tarifas mais altas e trabalhadores precarizados?
A energia elétrica é o coração da vida moderna. Está por trás da mobilidade elétrica, da indústria verde, da digitalização e da automação. Sem ela, não há futuro sustentável, não há revolução tecnológica nem desenvolvimento possível.
O Brasil, com sua matriz limpa e diversificada, tem condições de liderar a transição energética mundial. Temos sol, vento, biomassa, hidrogênio verde e uma base hidrelétrica sólida. Mas sem planejamento público, política industrial e visão estratégica, corremos o risco de entregar esse potencial às corporações privadas — e perder o controle sobre algo que é, antes de tudo, um bem público.
Tecnologia sem direitos é retrocesso
Muitos falam em modernização e produtividade, mas pouco se fala em quem ganha com isso. Vemos empresas do setor elétrico aumentando lucros, enquanto seus trabalhadores enfrentam sobrecarga, terceirização e insegurança.
A automação e a inteligência artificial podem ser ferramentas poderosas, desde que sirvam para melhorar a vida de quem trabalha, e não para substituir pessoas ou reduzir salários.
O progresso só é verdadeiro quando é coletivo.
Transição justa e trabalho digno
O mundo discute como reduzir emissões e abandonar o carbono. É uma pauta urgente e necessária. Mas a transição energética não pode repetir a lógica da exclusão. Se quisermos um futuro sustentável, ele precisa ser também socialmente justo.
Isso significa dialogar com os trabalhadores, garantir proteção ao emprego, investir em formação profissional e colocar o ser humano — e não apenas o lucro — no centro da agenda.
Energia e soberania
A energia não é uma mercadoria qualquer. Ela é um instrumento de soberania nacional e de inclusão social. Quando uma empresa pública é enfraquecida ou privatizada, o que está em jogo não é apenas o preço da conta de luz, mas o futuro do desenvolvimento brasileiro.
Por isso, defendemos o fortalecimento da Eletrobras pública e eficiente, o investimento em ciência, tecnologia e inovação, e uma política que coloque o Brasil no centro da economia verde — com empregos, direitos e renda para o nosso povo.
O papel do trabalhador
As grandes transições que vivemos não são neutras. Elas podem gerar prosperidade compartilhada ou aprofundar desigualdades. A diferença estará em quem participa das decisões.
Nós, trabalhadores, precisamos ocupar esse espaço. O futuro do setor elétrico não pode ser decidido sem ouvir quem o faz funcionar todos os dias.
Acredito que produtividade só tem sentido se vier acompanhada de empregos dignos, salários justos e qualidade de vida.
O trabalho deve estar no centro da equação — e não à margem dela.
Como presidente do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo, reafirmo: nossa luta é por uma transição energética com justiça social, por um setor elétrico que sirva ao povo, e por um país onde o progresso não deixe ninguém para trás.
O Brasil precisa de energia — mas precisa, acima de tudo, de trabalhadores valorizados e organizados para iluminarem o caminho do futuro.
Eduardo Annunciato – Chicão
Presidente do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo e da Federação Nacional dos Trabalhadores em Energia, Água e Meio Ambiente – FENATEMA
Diretor de Educação da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI)
Vice-presidente da Força Sindical