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Esta crise não é nossa
terça-feira, 11 de novembro de 2008
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Primeiramente, agradeço a todos os companheiros que largaram suas atividades sindicais nos seus países, estados e municípios, pra estarem presentes aqui em Porto Alegre e participarem desta Conferência. Nós sabemos das dificuldades que nós, dirigentes sindicais, enfrentamos, até por que estamos muito bitolados com aquele negócio de ficar cuidando da base, e se termina tendo muito pouco tempo para podermos conversar e nos qualificar. Isso porque eu acredito no seguinte: nós só vamos saber enfrentar um problema a partir do momento que construirmos uma massa crítica sobre ele, por isso de se reunir, sentar, conversar sobre a questão, para que a gente possa, com as experiências acumuladas e trocadas, encaminhar a solução do problema.
Considero importante o sacrifício que vocês fizeram para estar aqui, e os guerreiros que ficaram até o final do evento, pois muitos dirigentes sindicais – quando se faz encontros da direção nacional – reclamam que tem de haver mais capacitação, mais qualificação, e quando é propiciado isso, quando se investe nisso, as pessoas não ficam; então eu sei que os que estão aqui, não deveriam estar ouvindo isso, pois isso é para quem não está aqui. Quem despendeu dinheiro do seu trabalhador, para pagar sua passagem aérea pra vir aqui e depois não faz um bom proveito, deve explicações para sua categoria. Ouvir o que se tem a dizer é importante, fundamental, porque é só assim que vamos nos fortalecer, crescer.
Os contatos desenvolvidos pela secretaria internacional têm recebido o apoio estupendo da direção da nossa central, por meio do secretário-geral Juruna, que inclusive tem viajado conosco. E isso é importante para nós, porque se não tivéssemos dirigentes como as companheiras Nair (Bahia), como a Eunice (São Paulo), dentre outros, que estão neste evento preocupados com os trabalhadores, com certeza absoluta não teríamos o espaço e o crescimento hoje conquistados. Procuramos trazer os problemas do mundo do trabalho para esta conferência, em nível internacional, para debatermos e conectar-nos, porque não adianta a gente falar de trabalho decente pra nós mesmos. O Trabalho Decente só vai ser sentido pelo trabalhador quando nós, dirigentes sindicais, assumirmos nosso papel de representantes dos trabalhadores e colocarmos essa luta ética na convenção coletiva de trabalho, pois, se não agirmos assim, o trabalhador vai ter trabalho decente só na teoria. Colocar em prática o Trabalho Decente é colocá-lo na convenção, como cláusula a ser cumprida pelos patrões.
Para nós, que trabalhamos com a formalidade, juntamente com organizações parceiras que trabalham a questão da informalidade, nossa função é formalizar o informal; é fazer o direito social chegar também àquele que não está na formalidade. E quem é que vai fazer isso? Nós. Nós somos o agente disso.
O economista Márcio Porchmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (órgão do governo federal), na palestra feita em nossa 2ª Conferência, falou que nós não precisamos falar só pra nós mesmos, mas que somos, os dirigentes sindicais, os agentes da transformação. Que não devemos esperar que outros façam o que a nós cabe fazer. Que não é o Paulinho (presidente da Força Sindical nacional) que vai fazer as transformações, pois, na verdade, quem faz o Paulinho fazer as coisas no Congresso Nacional somos nós. Se nós não construirmos a massa crítica necessária e dissermos ao Paulinho qual o caminho, nada vai acontecer.
Eu tenho certeza que esse evento cumpre esse papel. A 2ª Conferência serve para isso, pra nós trocarmos idéias e aprofundar nossos conhecimentos, com nossos amigos, nossos irmãos internacionais que estão aqui, que também estão passando por dificuldades. Sabemos dos problemas seriíssimos que a Costa Rica está passando agora, com a derrota no plebiscito sobre o Tratado de Livre Comércio – TLC assinado com os Estados Unidos. Isso debilitou profundamente o movimento sindical e a gente sabe do sacrifício que vocês fizeram pra estar aqui. O companheiro do México, o Del Vale, está aqui com problemas de saúde e fez um esforço tremendo pra trazer sua delegação. Isso para nós é muito importante. Então a gente tem que aproveitar esse momento, que não é sempre possível ter e aproveitar essas organizações internacionais que estão aqui, pra debater estes temas junto conosco. É fundamental que a gente aproveite isso profundamente.
Esta 2ª Conferência Internacional, em tempos de propaganda de crise, e como estamos conectados on line com o mundo, através da internet, televisão, às vezes não percebemos como estamos sendo massa de manobra de quem domina os meios de comunicação do nosso país.
O economista Márcio Porchmann também falou disso, e é um sentimento que a gente tem. Daqui a pouco nós estaremos botando na nossa boca o discurso da Miriam Leitão, que está ganhando milhões pra defender outra coisa que não a nós. Para nós da Força Sindical do Rio Grande do Sul, não existe crise, porque essa crise não é nossa! Não fomos nós que a criamos. E se nós deixarmos que a crise chegue à mesa de negociação, os patrões vão dizer: ah, tem crise mesmo, por isso, não só não vamos negociar salários como vamos ter que tirar alguns direitos de vocês (dos trabalhadores). Não podemos acreditar ou cair nessa conversa. A crise quem criou não fomos nós. São meia dúzia de empresas que especularam e transformaram a bolsa de valores num grande cassino. Essa visão nós temos que ter. Não vamos, nós, absorver isso. Nós não podemos e não devemos embarcar nessa canoa patronal de discutir o prejuízo que ele vai ter no futuro.
Até porque, o que nós discutimos na mesa de negociação não é o futuro. Nós discutimos o que já passou, o passado. Na mesa de negociação nós discutimos a perda que o trabalhador teve nos últimos doze meses. O patrão teve lucro durante tal período, nada mais justo que ele reparta esse lucro com quem o ajudou para isso.
Então ele projeta o prejuízo que ele vai ter no futuro e quer jogar em cima da mesa de negociação onde nós estamos discutindo o passado. Então está equivocado isso. Nós não podemos embarcar nessa questão de ‘crise’, até porque quem vai terminar sendo prejudicado, no geral, é o trabalhador.
A gente tem visto as pessoas responsáveis pela economia brasileira, e que também foi confirmado pelo Márcio Porchmann, que a última crise que tivemos – a da quebra da Rússia – nos atingiu diretamente, com aumento de preços e da inflação. Ao contrário, em detrimento de outros países, o Brasil está mais preparado para enfrentar essa e outras crises.
Eu posso até estar errado, e eu quero não errar; entendo que a crise não vai ser tão grave para nós como está sendo pra Europa e Estados Unidos, porque eles são seus responsáveis. É só olhar as empresas que especularam com o dólar ou na bolsa. Na grande maioria são multinacionais. Tirando aqui a Petrobrás, que vive do petróleo, as restantes são multinacionais. Entendo que temos de avaliar com clareza isso e não embarcar nessa canoa.
Eu chamo a atenção ao seguinte: não vamos embarcar nessa conversa que está por aí, senão vai debilitar ainda mais a nossa luta.
Por fim, agradeço todos os senhores e senhoras, nossos amigos e dirigentes sindicais aqui presentes, por terem feito este esforço para estar aqui em Porto Alegre e podermos abrilhantar e qualificar ainda mais a nossa central, pro mundo e pro nosso país.
Xô crise! À luta companheiros!
Muito Obrigado
*Discurso do presidente do Sindec e secretário de Relações Internacionais da Força Sindical, Nilton Neco, durante a II Conferência Internacional da Força Sindical, realizada nos dias 29, 30 e 31 de outubro de 2008, em Porto Alegre – RS