No mundo dos aviões de guerra a geometria variável diz respeito a asas e configurações que, alteradas de maneira planejada, melhoram o desempenho das aeronaves.
Esta pode ser uma boa metáfora para as estratégias das direções sindicais ao se relacionarem com os poderes institucionais da República.
Se os campos de aferição são definidos com suas interações podemos discriminar as preocupações políticas democráticas, as preocupações com a economia, as relações de trabalho e o emprego, as preocupações com a pauta de costumes e de segurança e as preocupações com a própria efetividade dos sindicatos e da ação sindical.
O movimento sindical deve, portanto, ao escalonar as suas pautas – preocupando-se sempre em destacar os pontos principais e direcioná-las às bases representadas – procurar e efetivar aquelas determinações e aquelas precedências (até mesmo aquelas habilidades) mais favoráveis à obtenção dos fins desejados.
Na luta atual pelo auxílio emergencial e pela pauta concentrada de 5 de janeiro das centrais sindicais torna-se imperiosa a adoção da estratégia de geometria variável, com táticas que, afirmando nossa reivindicação central de 600 reais até o fim da pandemia e para todos os necessitados, procure criar um amplo movimento favorável em toda sociedade (a começar pelas bases sindicais dos trabalhadores) e que leve em conta as diferentes sensibilidades dos eventuais aliados, dos eventuais apoiadores que tenham dúvidas e dos eventuais adversários.
O Congresso Nacional que, analisadas as três últimas grandes votações (das mesas diretoras, da autonomia do Banco Central e da confirmação da prisão do deputado Silveira) revela grosso modo uma composição com 25% da oposição, 25% de bolsonaristas e 50% do Centrão e é um grande campo de provas onde podemos exercitar a estratégia da geometria variável com sucesso desde que se atue de maneira diferente com atores diferentes.
João Guilherme Vargas Netto, é membro do corpo técnico do Diap e consultor sindical de diversas entidades de trabalhadores em São Paulo