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Greves e democracia
quinta-feira, 3 de abril de 2014
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Quis o destino que a aurora do 1º de abril deste ano viesse encontrar um grupo de metalúrgicos da nossa base em greve. Meio século atrás, a situação era muito diferente: nessa mesma data, nosso Sindicato era invadido por forças policiais e a diretoria acabava cassada, gerando intervenção do Estado em nossa entidade.
A ditadura baixou intervenção em centenas de entidades, com um grande número de sindicalistas cassados e presos. Vários foram torturados e exilados. E também houve os que morreram devido à repressão durante manifestações ou nas sessões de tortura em cadeias, quase sempre presos de forma ilegal e mantidos incomunicáveis.
A greve atual em nossa base é motivada pela busca de uma PLR maior e melhores condições de trabalho. A paralisação ocorre de forma pacífica, até o momento, sem constrangimentos por forças policiais ou por agentes da empresa.
Faço esse paralelo entre o Brasil de agora e o que existia durante a ditadura, para reafirmar as mudanças e o progresso em nosso País. No Estado democrático, a greve reivindicatória é um direito, e não mais ataque ao governo ou à ordem jurídica. O trabalhador é um cidadão reivindicando seus direitos e não mais inimigo interno do regime.
Em anos passados, especialmente antes da Constituição de 1988, um agente do Ministério do Trabalho iria ao local constatar a greve, e o termo que era lavrado daria base para o empregador pedir, no dissídio do Tribunal, a ilegalidade ou abusividade da paralisação. Feito isso, abria-se para a empresa a possibilidade de demissão em massa, alegando justa causa.
Muitos dos jovens que estão de braços cruzados nas duas unidades da ABB não sabem dessas histórias, e tantos outros, metalúrgicos ou não, sequer têm noção da repressão que havia em cima do movimento sindical e dos movimentos sociais, inclusive o estudantil.
A história não é o passado congelado. Ao contrário. Os fatos de ontem influem na realidade de hoje. Por isso, é tão importante conhecer a história, compreender o que se passou, reconhecer o valor dos que não aderiram ao autoritarismo e valorizar a liberdade, o direito de greve e as demais garantias que a democracia nos possibilita.
José Pereira dos Santos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região. E-mail: pereira@metalurgico.org.br
Blog: www.pereirametalurgico.blogspot.com