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Ilusões autoritárias
terça-feira, 25 de novembro de 2014
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A eleição presidencial foi muito disputada e isso acirrou os ânimos políticos. Por essa razão, certos segmentos da sociedade estão indo às ruas protestar. O protesto é legítimo. Não é legítimo, porém, atacar a democracia e pedir a volta dos militares.
Pessoas de extrema direita são, essencialmente, contra a democracia. Mas elas representam um segmento isolado, sem base social. Outras o fazem por desconhecimento, na ilusão de que um governo autoritário administre melhor, inclusive sem corrupção.
Vivi na ditadura. Iniciei minha militância política e sindical ainda sob o governo ditatorial. Sou testemunha do que foram aqueles anos de sufoco e desmandos.
A primeira vítima da ditadura é a liberdade. A liberdade de imprensa, principalmente. Naquela época, os jornais eram censurados e os jornalistas, caso fizessem críticas mais intensas ou mesmo denúncias fundamentadas, acabavam enquadrados na Lei de Segurança Nacional. O sindicalismo também era vigiado e perseguido. Foram muitos os casos de intervenção, cassação, prisões, torturas, desaparecimentos e mortes.
Os artistas sofreram com a repressão, pois a censura era implacável, ao impedir a exibição de filmes e espetáculos, retirar livros de circulação e recolher discos com músicas que o regime considerava antipáticas. Até uma inocente peça teatral infantil só podia estrear após ser encenada para um censor, que mexia na obra e fazia cortes.
O trabalhador, ainda que não participasse da vida sindical, também foi duramente prejudicado. A ditadura baixou os decretos-leis de arrocho salarial e aumentou em muito a inflação. Vale recordar que o governo de então desviou dinheiro da Previdência para obras, como a hidrelétrica de Itaipu, ajudando a aprofundar o déficit previdenciário que aí está.
Muitos desavisados alegam que um governo forte evita corrupção. Não é verdade. Havia, como hoje, superfaturamento de obras e escândalos de empresas privadas com dinheiro público. Na prática, era mais difícil denunciar. Ainda assim, ficou famosa a série do jornal O Estado de S. Paulo sobre as “mordomias” no governo. Aliás, a palavra mordomia só se popularizou depois daquelas reportagens.
Hoje, se reclama do mau atendimento à saúde pública. Mas é preciso lembrar que o SUS só foi criado com a Constituição de 1988. Antes disso, a pessoa tinha de se virar na precária rede pública existente ou recorrer ao INPS, que era sinônimo de filas, mau atendimento e desrespeito.
Não existe governo ou regime que só tenha virtudes ou apenas vícios. Há problemas sérios em todos. Porém, na democracia, a sociedade pode descobrir os erros, denunciar os abusos, acionar o Judiciário, mobilizar a imprensa e apontar soluções.
O regime ideal não existe. Mas o melhor até hoje é o sistema democrático. Devemos valorizar a democracia e ampliar seus mecanismos. Aventuras autoritárias, à esquerda ou à direita, podem servir a grupos: jamais ao povo.
José Pereira dos Santos,
presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região