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Jogue Limpo
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
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O futebol é um grande negócio, todo mundo sabe. Sobretudo por motivos comerciais, equipes ultrapassaram a esfera nacional e se tornaram globais. Na Espanha, me comentaram que os principais clubes são obrigados a jogar partidas sob o sol do meio dia do país ibérico para que os chineses possam assistir aos jogos. As ganancias são multimilionárias.
Quem encabeça a lista dos que se beneficiam dos negócios futebolísticos é a FIFA, que faturou em 2011, primeiro ano depois da Copa Mundial da África do Sul, 1,07 bilhões de dólares. O resultado foi inferior ao de 2010, ano em que a entidade levantou 1,29 bilhões.
Segundo a FIFA, “A venda de direitos para o mundial de 2014, particularmente na área de marketing, gerou ganhos superiores aos do evento de 2010”. Uma vez que os países em desenvolvimento estão atolados em profunda crise, não é de se admirar, então, que os próximos mundiais mirem países em desenvolvimento que crescem de forma dramática: África do Sul (2010), Brasil (2014), Rússia (2018) e Catar (2022).
A entidade futebolística já faturou até agora aproximadamente 800 milhões de dólares apenas em relação à Copa 2014, faltando quase dois anos para que essa se inicie. Também no ano de 2011, a FIFA arrecadou 537 milhões de dólares com a venda de direitos de transmissão para o mundial, contra 520 milhões do ano de 2007. Esses dados foram divulgados no balanço oficial da instituição.
Em suma, a FIFA ganhou mais com a África do Sul do que com a Alemanha e, no Brasil, antes do evento iniciar, faturou mais do que no país africano.
O Fair Play e o Play Fair
O slogan “Fair Play” (Jogo Limpo), da FIFA é bastante conhecido. Por sua vez, o movimento sindical mundial elaborou o “Play Fair” (Jogue Limpo), para realçar a necessidade de que, nos Campeonatos Mundiais e nos Jogos Olímpicos, sejam respeitados os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras envolvidos nos preparativos e no desenvolvimento do torneio.
A Copa da África do Sul teve muitos problemas prévios por motivo de greves, especialmente no setor da construção. As condições laborais, salariais e de saúde e segurança dos trabalhadores não deixaram alternativa à classe do que essas medidas de protesto.
O Brasil não é exceção. Entre 2011 e abril de 2012, já foram registrados pelo menos vinte mobilizações, paralisações e greves, com reivindicações que incluem pelo menos um dos seguintes aspectos: aumento salarial e melhora das condições de trabalho (especialmente no que se refere à segurança, alimentação e saúde). Reinvindicações
Porém, à FIFA só interessa o Fair Play, não o Play Fair. Ou seja, para ela não é importante que se jogue limpo com os trabalhadores e trabalhadoras e que se respeite seus direitos. No começo de 2012, as lideranças sindicais internacionais se reuniram com a entidade em Genebra para tratar desse assunto. Um dos pedidos foi que se abrisse uma negociação com o movimento sindical brasileiro. No entanto, mesmo com a insistência da CSA diante de Joana Havelange no Brasil (qualquer semelhança com o nome de João Havelange não é mera coincidência), nunca aconteceu sequer uma reunião.
Porque a Copa do Mundo não afeta somente aos trabalhadores da construção, como também os do turismo e comércio, sem se esquecer da área têxtil, da saúde, do transporte, entre muitos outros.
Agora, o combate contra os direitos sindicais chegou ao parlamento brasileiro. Três senadores apresentaram um projeto de lei que anula o direito de greve em treze setores durante os três meses de duração do mundial, até o final da competição. O projeto, inconstitucional, está na comissão sendo analisado.
Catar 2022
O caso da organização da Copa do Mundo no Catar, em 2022, é ainda mais deplorável. Demonstra que a FIFA não tem dúvida em se associar a governos autoritários que violam sistematicamente os direitos humanos dos trabalhadores e trabalhadoras.
A ONU (Organização das Nações Unidas) está investigando o trato que recebem os trabalhadores empregados na construção da infraestrutura do mundial de 2022. Os sindicatos internacionais apresentaram uma queixa formal para OIT (Organização Internacional do Trabalho), provando que o governo catariano se nega a reconhecer os direitos dos trabalhadores migrantes, que são grande maioria no país. Segundo fontes do governo da Índia, há 500 mil trabalhadores indianos trabalhando no Catar.
A lei permite aos trabalhadores catarianos afiliação sindical e o direto a greve com o prévio consentimento do governo. Contudo, nega aos trabalhadores migrantes – que representam 99% da mão de obra do setor privado – ambos os direitos.
Os trabalhadores migrantes não podem mudar de trabalho sem o consentimento do empregador, salvo em casos excepcionais, com a autorização do Ministério do Interior. Se um trabalhador migrante foge de seu empregador por motivo de abuso, este pode acusa-lo de “fugitivo”, fato que leva o empregado para a detenção e deportação para o estrangeiro.
O Catar ganhou a controvérsia candidatura para organizar a Copa do Mundo da FIFA em 2022 e vai gastar mais de 100 bilhões de dólares em estádios e outros projetos para sediá-la. É frustrante pensar que mais trabalhadores podem morrer na construção da infraestrutura do mundial do que o número de atletas que vai jogar no mesmo evento.
Conhecendo tudo isso, a pergunta é: vamos permitir que nossas equipes nacionais joguem em estádios construídos com sangue e repressão?
O movimento sindical internacional está em uma campanha de boicote a Copa do Mundo de 2022 caso não se invertam essas condições infames no Catar.
Faça também sua parte enviando uma mensagem ao Catar, afirmando que não haverá uma Copa do Mundo em 2022 sem direitos laborais: http://act.equaltimes.org/pt/
Víctor Báez, Secretário Geral da Confederação Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras das Américas