As fogueiras grevistas acendidas em São Paulo na última terça-feira arriscam queimar nossa lenha nos meses vindouros.
Refiro-me às greves que atrapalharam a vida de milhões de paulistas nos metrôs, nos trens e no atendimento da Sabesp exigindo a convocação, pelo governo estadual, de um plebiscito sobre a privatização das empresas. Uma linha do trem privatizada, onde não houve greve, também parou por defeito no trem.
E à greve dos metalúrgicos da Embraer convocada pelo sindicato mais não efetivada integralmente por eles com a ajuda da empresa, dos seus chefes, supervisores e monitores e da polícia, até com prisões.
Neste caso a proposta da empresa e da Fiesp de somente garantir a reposição da inflação nas negociações salariais sem aumento real e sua intransigência são repudiadas pelos trabalhadores e dificultam a retomada das negociações.
O movimento sindical como um todo vê com preocupação esse quadro e procura se manter longe do alcance das fagulhas, apesar de solidário.
E para agravar a conjuntura difícil daquela terça-feira (que contraria a grande conjuntura com crescimento, com emprego, com ganhos salariais e sem inflação) a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado aprovou um projeto de lei que veda a contribuição assistencial dos trabalhadores aos sindicatos, contrariando explicitamente a posição, que nos é favorável, do STF.
Esta votação aconteceu um dia depois de uma reunião das centrais sindicais com o presidente do Senado em que ele, sensibilizado com os argumentos apresentados, dispôs-se a tentar apagar os arroubos incendiários de alguns senadores contra o movimento sindical.
A votação, que pode a qualquer momento se tornar terminativa no Senado e remeter o projeto impeditivo à Câmara, ilustra bem a dificuldade enfrentada pelo movimento sindical no Congresso, apesar da boa vontade de seu presidente.
Não se deve chorar o leite derramado da vasilha de fervura, mas trabalhar com afinco para reverter a negatividade do quadro, intensificando as campanhas salariais em curso, “subindo” às bases com unidade, inteligência e sem aflição e conversando com os senadores.
João Guilherme Vargas Netto, assessor sindical