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Maré montante
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
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Não quero deixar que fique em branco nestas minhas observações semanais o registro do que está acontecendo agora no Oriente Médio.
A grande constatação é a do desconhecimento enorme em que vivemos – atolados pelos informes interesseiros das agências noticiosas internacionais – da realidade, da vida e da história dos povos orientais.
Tudo acontece para nós como um tsunami sem previsões. Pelo que se constata os próprios serviços secretos das potências foram surpreendidos pela avalanche e devem se esfalfar para repor o passo e refazer os contatos. A diplomacia hipócrita que condenava alguns dirigentes tiranos e aliviava todos os outros foi desmascarada pelos povos.
Nos acostumaram, principalmente depois da dissolução da União Soviética e derrotada a orientação laica e progressista, a aceitar o “equilíbrio árabe” que barrava o fundamentalismo e o terrorismo e acomodava-se com as agressões de Israel e dos Estados Unidos.
Parecia que a História havia chegado ao fim no Oriente Médio e fosse apenas protagonizada pelos inimigos ferozes do império ianque que mereciam repúdio e destruição. O sofrimento dos palestinos, a penúria das massas de trabalhadores, a cupidez dos nababos e o fluxo do petróleo e gás (sob controle das multinacionais lucrativas) eram apenas o fundo “imexível” do quadro.
Tudo agora recomeçou na Tunísia com forte participação do movimento sindical organizado pela Confederação Geral dos Trabalhadores Tunisinos e respaldada pelos metalúrgicos, químicos e funcionários públicos. No Egito, fora da Praça da Libertação e ao longo do Canal de Suez, houve greves e manifestações dos trabalhadores. Aqui e ali despontam nos protestos por democracia as reivindicações sociais e salariais tão conhecidas por nós.
Um novo quadro se desenha na região, com novos equilíbrios estratégicos e novas lideranças que se afirmam. Contrariamente à lição do Leopardo, tudo mudará porque alguma coisa mudou.
O movimento sindical brasileiro, com sua experiência de unidade de ação, deveria fazer chegar aos trabalhadores árabes e aos lutadores por democracia e justiça social, sua mensagem de solidariedade e apoio buscando, desde já, estabelecer relações e fortalecer os vínculos com a maré montante de sua luta repudiando veementemente a repressão e os massacres.
João Guilherme Vargas Neto, Consultor Sindical