O Rio de Janeiro é pioneiro na distribuição de gás natural veicular no país. A primeira bomba foi instalada no estado em novembro de 1991. No início o GNV era utilizado apenas de forma experimental, em ônibus. O estado também é o que possui a maior rede de distribuição e número de carros convertidos. A frota de veículos GNV no Rio de Janeiro chega a 1,6 milhão. Esse título também reflete na questão da segurança. Infelizmente o estado é recordista no país em número de acidentes com cilindros de GNV, apesar de possuir leis para reduzir os riscos. E no final dessa cadeia produtiva está o frentista, exposto a todo tipo de infortúnio.
Na semana passada, mais um acidente resultou na morte de um motorista. O cilindro de GNV do carro explodiu durante o abastecimento. O treinamento e a atitude dos frentistas foram essenciais para evitar uma tragédia de grandes proporções. O posto de combustível fica numa rua movimentada da zona norte do Rio de Janeiro e no momento havia outros carros na área de abastecimento.
O trabalhador, que age em defesa dos clientes e da população em toda e qualquer situação, é o mesmo que hoje sofre ataques de grupos econômicos, que jogam pesado contra a categoria. No Congresso Nacional tramitam projetos que visam derrubar a Lei 9.956/2000, que proíbe o autosserviço nos postos de combustíveis de todo país. As propostas, defendidas pelas distribuidoras e grandes redes de postos de combustíveis, põem em risco, não só o emprego dos 500 mil frentistas no Brasil, mas também à vida do cliente.
Esse triste acidente, mostra o quanto é importante a presença de um profissional treinado e qualificado em casos de emergências. O posto é um local altamente periculoso e insalubre e o consumidor não tem qualquer treinamento para manusear produtos inflamáveis e tóxicos.
E no país onde a lei da carteirada impera, querer impor ao trabalhador o papel de fiscal é um verdadeiro escárnio. O município do Rio de Janeiro criou uma lei que proíbe os postos de abastecer carros que não apresentam o selo de validade no cilindro de GNV. A lei, no entanto, não determina a quem cabe a fiscalização. Ao dono do posto? Ao frentista? Todos sabem que no Brasil a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. O frentista não pode ser usado como bucha nessa briga de gato e rato, onde o poder público cria regras, mas se exime de fiscalizar.
Os acidentes acontecem principalmente por falha na fiscalização. O cilindro que explodiu no Rio de Janeiro era de um carro, que foi roubado em 2016. Provavelmente a instalação foi feita numa oficina de fundo de quintal, onde as ações do poder público não chegam. O atual governo precarizou as fiscalizações ao incentivar à desobediência civil. E os trabalhadores sentem na pele as arbitrariedades e as crueldades desse desgoverno. A reforma trabalhista de Bolsonaro precarizou a mão de obra, promoveu a desvalorização dos salários— já corroídos pela inflação— e aumentou a desigualdade social no país. Assim como o nosso sindicato, as entidades coirmãs, lutam para manter os direitos já conquistados nas Convenções Coletivas. Não está fácil para os trabalhadores brasileiros que têm que matar um leão por dia para garantir o mínimo de dignidade para a sua família. Não podemos cochilar. Agora é hora de unir forças. O governo Bolsonaro já tem pronto um estudo para embasar uma nova redução dos direitos dos trabalhadores brasileiros. O documento criado pelo Grupo de Altos Estudos do Trabalho (GAET) foi entregue ao Conselho Nacional do Trabalho no final do ano passado. Nenhum representante da classe trabalhadora participou do estudo.
Companheiros, é preciso ligar o alerta máximo. Quem sempre esteve, e continua ao seu lado, é o seu sindicato. A nossa categoria é centenária. A profissão de frentista surgiu em 1912, quando empresas petrolíferas começaram a exportar para o Brasil gasolina e querosene em latas e tambores. Os poucos veículos em circulação na época, cerca de 2.400, todos importados, eram abastecidos por meio de funis. A nossa história de luta e resistência tem que ser contada para nossos filhos, netos e para toda a sociedade.
Vamos continuar lutando por melhores salários para a categoria. Salários que correspondam aos riscos aos quais os trabalhadores estão expostos. Não vamos permitir que o frentista seja responsável pela fiscalização dos cilindros de GNV. Na corda bamba da vida o frentista é o artista que se arrisca, se equilibra e enfrenta os desafios na pista para melhor atender o consumidor. Por isso nossos aplausos hoje são para vocês trabalhadores guerreiros. Vamos lutar pela nossa valorização profissional e por mais dignidade e respeito. Vamos à luta companheiros!
Eusébio Pinto Neto é presidente da Feneposptro e do Sinpospetro/RJ