Imagem do dia
Enviar link da notícia por e-mail
Artigos
Negócios com a China
quinta-feira, 21 de maio de 2015
Artigos
Durante décadas, os Estados Unidos foram o principal parceiro do Brasil. Não só na economia. Até hoje, eles exercem forte influência cultural em nosso País, vendendo, de forma inteligente, o conceito de que tudo o que vem de lá é melhor.
A influência é forte. Mas a parceria já não é tão preponderante. Hoje, os Estados Unidos estão em segundo, porque o primeiro lugar é ocupado pela China. Em 2014, nossas exportações somaram US$ 40,6 bilhões; as importações foram de US$ 37,3 bi, somando um fluxo de US$ 77,9 bi. Isso dá US$ 15,9 bi a mais que os negócios com os EUA.
Nosso governo tem procurado reposicionar a relação comercial com os norte-americanos. Mas parece que os chineses chegaram na frente, como no leilão de Libra, no pré-sal, quando uma estatal deles ficou com 20% do poço e nenhuma petroleira dos “States” participou. Recentemente, a China emprestou US$ 3,5 bilhões à Petrobras.
A parceria Brasil-China deve ganhar força. Fala-se que a potência asiática pode investir até US$ 53 bi no mercado nacional, especialmente em infraestrutura e energia. Espera-se também que o premiê chinês reabra mercado à carne nacional.
O Brasil vende bem para a China, principalmente ferro e soja. Porém, tais produtos têm baixo valor agregado. Na prática, exportamos produtos primários e os chineses nos vendem manufaturados. A visita do primeiro-ministro chinês não mudará o quadro. A boa notícia, no entanto, deve ser os investimentos em infraestrutura.
Em Seminário do Sindicato, o professor Marco Antonio Villa explicou que o eixo da economia passa a ser traçado através do oceano Pacífico – durante séculos, a grande estrada foi o Atlântico. A emergência da China e outros países da região está deslocando o eixo da economia e da geopolítica.
O Brasil faz bem em ampliar relações. A China tem muitas peculiaridades. É o único grande país a nunca ter sido ocupado militarmente por outra potência. O Brasil também tem e, no caso, é peculiaridade folclórica. Em 1964, no auge do anticomunismo, a ditadura prendeu uma delegação comercial chinesa, criando constrangimento diplomático. Dez anos depois, o general Geisel restabeleceu relações diplomáticas.
Nos últimos anos, o Brasil perdeu espaço no comércio mundial. Erros dos governos e crise econômica explicam parte do insucesso. A ampliação dos negócios com os chineses pode ser o começo de uma retomada. Ter esperanças não faz mal a ninguém. Mas cautela também faz bem. Devemos importar, sim, mas com o cuidado de não comprar produtos feitos com mão de obra escrava. E precisamos variar a pauta exportadora, agregando produtos manufaturados, que garantam o emprego dos brasileiros.
Devemos negociar com a China. Mas sempre com o interesse nacional em primeiro lugar.
José Pereira dos Santos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região