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No Brasil, até morte em obras é superfaturada
quinta-feira, 3 de abril de 2014
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A morte de Fábio Hamilton Cruz, registrada no último dia 29 de março último, quando ele caiu de uma estrutura da arquibancada provisória do Itaquerão, foi a terceira do local e a oitava do conjunto de obras de arenas pelo Brasil, o País da Copa, cujo povo tem, como maior preocupação, a saúde.
Na África do Sul, promotor do Mundial de futebol em 2010, foram duas mortes. Ou seja, em terras brasileiras, o quadro, sinistro, quadruplicou, fato que nos permite afirmar: aqui no Brasil até a morte é superfaturada…
Quando do falecimento de dois companheiros no ano passado, devido ao tombamento de um guindaste, em nenhum momento deixei de expressar preocupações com a segurança dos trabalhadores. A mídia, inclusive, deu ampla repercussão às minhas palavras, colhidas através de telefonemas e contatos com os profissionais que executam suas atividades no Itaquerão.
Como em nosso país não há planejamento, mas sim oportunismo político, houve sensível atraso nas obras. A Fifa, promotora do evento, reclamou. E a resposta do nosso governo foi a de acelerar as obras, expondo os trabalhadores a jornadas excessivas de trabalho através da prática das tarefas, uma das ações mais nocivas à saúde física, psicológica e mental dos profissionais.
Os patrões oferecem dinheiro à pessoa que, necessitada, permanece num batente insano por 12, 13, 15 horas.
Ora, o cansaço é inevitável. E quando o cidadão executa suas tarefas num ambiente perigoso como o da Construção Civil, a bomba relógio fica engatilhada, só esperando por uma falha, um simples momento de desatenção, para estourar e matar.
É fato, também, que as construtoras responsáveis contratam e subcontratam empreiteiras para ajudar na tarefa. Só que essas empreiteiras, normalmente, não têm a mesma infraestrutura de recursos humanos das majoritárias. E, aí, não é preciso ser um expert nem vidente para saber das consequências, absolutamente desfavoráveis ao trabalhador.
Leio que a mais recente vítima da pressa (inimiga da perfeição) em determinado instante desatou seu cinto de segurança para realizar uma manobra de serviço. Foi o momento, o segundo da queda que alguns dizem ter sido de oito metros e os bombeiros, de 15 metros.
Leio, também, que dois operários presenciaram o ocorrido e serão as principais testemunhas da apuração do acidente.
Pois é. Será que esses operários não estão sendo pressionados?
Digo isso porque, nesta selva de pedra, onde corações batem no bolso, tudo é mais do que possível.
Não tenho dúvidas que o culpado da morte será o morto…
Nada além disso será levado em conta. Muito menos os mandos e desmandos de empresários e políticos interessados em cimentar com sangue obras no padrão Fifa…
Nosso sindicato, o dos Trabalhadores da Construção Civil de São Paulo, está atento ao desenrolar dos acontecimentos. E não se calará diante de quaisquer circunstâncias.
Antonio de Sousa Ramalho, presidente do Sintracon-SP e deputado estadual (PSDB-SP)