Não sou e não quero parecer negativista. Mas precisamos ser realistas. Do ponto de vista sanitário, a pandemia está passando. Mas, na economia, há grande risco de o pior ainda estar por vir. Daqui até o início de 2021 teremos uma combinação de quatro fatores que podem formar a tempestade perfeita. O primeiro é a altíssima taxa de desemprego, na casa dos 13%. O segundo é que essa taxa tende a aumentar porque uma leva grande de trabalhadores corre risco de perder o emprego com o fim da suspensão do contrato de trabalho ou da redução de salário e jornada.
Eram duas ferramentas que garantiam ao trabalhador uma renda mínima, que foram prorrogadas para até 180 dias, mas estão acabando. O terceiro é a redução do valor do auxílio emergencial para R$ 300,00 já neste mês e o fim do benefício em dezembro. E o quarto é que as pequenas empresas não conseguiram as linhas de financiamento do governo por excesso de burocracia e exigência. Esses quatro fatores, conjugados, vão deixar milhões de famílias sem renda ou pouquíssima renda. Ou seja, com baixíssimo poder de compra.
A economia é uma engrenagem. Se não há quem compre e o governo não ajuda com crédito, o negócio demite e fecha. Não é só o desemprego de quem tinha carteira assinada, mas também do trabalhador informal que, com a pandemia, ficou sem cliente e passou a precisar do auxílio emergencial. Para piorar, estamos vivendo um momento de disparada no preço do arroz e do feijão, o alimento do pobre. Isso tudo junto leva ao risco do caos social, de pessoas passando fome e saqueando para tentar arrumar o que comer.
A situação do Brasil só não está pior por causa do agronegócio, que está exportando mais porque o real está desvalorizado perante ao dólar. E temos outra preocupação: se o governo reonerar os 17 setores produtivos que hoje têm benefício fiscal, será uma tragédia. Por isso nós, entidades sindicais, continuamos reivindicando no Congresso a manutenção do auxílio emergência integral, de R$ 600,00, até dezembro, e um benefício em 2021. Infelizmente, não vejo nenhuma perspectiva a curto e médio prazos de solução para o desemprego e a renda. Se não tiver renda não tem consumo e, se não tem consumo, não tem emprego.
Para sair deste atoleiro, precisamos de políticas públicas pensadas e voltadas para a geração de emprego e incentivo ao consumo. Se as políticas forem feitas de olho na eleição de 2022, não vamos caminhar para terra firme. E precisamos de bom senso e entendimento entre os nossos governantes, empresários, trabalhadores e sociedade como um todo. Precisamos esquecer vaidades e diferenças, posicionamentos políticos, para construir uma saída para a crise.
Edson Dias Bicalho
presidente do STI Bauru e secretário geral da FEQUIMFAR