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Ainda estão vivas em nossas memórias as cenas de reconhecimento da dedicação dos trabalhadores da Saúde durante a pandemia da COVID. Aplausos, jornais e TVS reconhecendo a essencialidade destes profissionais; outras categorias de trabalhadores essenciais também são lembradas quando são interrompidos os fornecimentos de energia e água.
Infelizmente os trabalhadores envolvidos com a prestação de serviços essenciais à vida não têm o seu devido valor reconhecido pelas empresas, que após a privatização simplesmente tratam os “colaboradores” com discursos enaltecedores do empreendedorismo e falsa promessas de progresso nas carreiras. Tudo em nome da modernidade da gestão e da ampliação dos lucros.
Este eterno dilema entre capital e trabalho segue firme, em alguns momentos ocorrem avanços e melhorias nas relações entre patrões e empregados e em outros notamos a prevalência da lógica neoliberal. Segundo a estudiosa Elisabeth Anderson (autora do livro Sequestro: Como o neoliberalismo virou a ética do trabalho contra os trabalhadores e como os trabalhadores podem recuperá-la), o embate se dá entre as versões progressistas e conservadoras sobre a ética do trabalho.
A autora descreve a versão progressista ou pró-trabalhador como sendo aquela que se alinha com a remuneração digna, com o respeito e condições de trabalho seguras; enquanto a versão conservadora da ética do trabalho defende que o trabalhador tem o dever de trabalhar incansavelmente, sem reclamar, deve aceitar as perigosas condições de trabalho e se contentar com salários miseráveis. Esta disputa, desnecessária e injusta, somente provoca o aumento das desigualdades sociais e a exploração de trabalhadores essenciais ao bem-estar social coletivo, afinal de contas sem energia elétrica, assim como transportes, comunicações, água e preservação ambiental o futuro da humanidade está comprometido.
Não por acaso vivemos tempos de ataques da extrema-direita aos movimentos sindical e social, em especial aos Sindicatos, que defende e instrui o Estado a reduzir a proteção social ofertada á população sob o vergonhoso discurso do controle do gasto público, que critica os investimentos em educação, saúde e previdência social, mas, se cala em relação aos subsídios destinados as grandes empresas e ao agronegócio.
A sociedade precisa acabar de vez com a ideia de que a riqueza é prova de virtude enquanto a pobreza é sinonimo de vício e dependência da ajuda estatal, seria mais humano e justo criar empregos dignos em quantidade suficiente para que somente uma minoria dependesse da proteção social do Estado. A melhor forma de se contrapor a versão conservadora da ética do trabalho é fortalecer o movimento sindical, pois não podemos aceitar que o companheiro ao nosso lado seja explorado e tratado como um simples número, pois amanhã poderemos passar pela mesma situação.
A qualidade de vida não pode estar atrelada ao que se consegue adquirir em um mundo orientado pelo consumismo desenfreado, estimulado pelos donos do Capital defensores da competitividade como ferramenta de seleção natural de indivíduos de primeira e segunda classe. A solidariedade e a justiça econômica são fundamentais para resignificar o trabalho e acabar com a exploração neoliberal.
A defesa de um Salário Mínimo digno é um passo importante para aproximar o Sindicalismo e os Movimentos Sociais para virarmos o jogo contra a desigualdade e a pobreza. O que liberta não é o trabalho, o que liberta é um trabalho decente, que respeite direitos, garanta uma remuneração justa e que não coloque em risco a saúde e a segurança da classe operária.
Eduardo Annunciato – Chicão
Presidente do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo (STIEESP) e da Federação Nacional dos Trabalhadores em Energia, Água e Meio Ambiente – FENATEMA
Diretor de Educação da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI)
Vice-presidente da Força Sindical