Imagem do dia
Enviar link da notícia por e-mail
Artigos
O verdadeiro Vale da Eletrônica
sexta-feira, 10 de abril de 2009
Artigos
Nesta semana, o Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares do Vale da Eletrônica (Sindvel) inaugurou um escritório para negociações na cidade de Montevidéu, Uruguai. O objetivo do empreendimento é facilitar a exportação de produtos de Santa Rita do Sapucaí para a América Latina. A iniciativa tem apoio do governo de Minas Gerais e da Apex-Brasil. Segundo declarações dadas à imprensa por diretores do Sindvel, a internacionalização dos negócios pode agregar ao faturamento do Arranjo Produtivo Local (APL) R$ 4,5 milhões neste ano. Em 2008, as 132 empresas que compõem o APL de eletroeletrônicos já haviam faturado R$ 1 bilhão em negócios na sua maioria concretizados no mercado nacional.
Essa movimentação no cenário empresarial que envolve governos local, estadual e federal não é a mesma que se percebe quando o assunto é a vida do trabalhador do Vale da Eletrônica. Sim, embora Santa Rita do Sapucaí seja conhecida pelos seus 11 mil produtos eletroeletrônicos, ainda são pessoas que comandam a montagem deles. Os governos envolvidos na internacionalização dos negócios não apresentaram nenhuma política de melhoria de salários e benefícios para os trabalhadores dessas empresas.
O Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Santa Rita Sapucaí e Região (Sindmtsrs) conseguiu um aumento de 10,58% na última negociação da Convenção Coletiva de Trabalho. Esse valor foi aprovado depois de uma batalha na mesa de negociações. Porém, mesmo com um valor de fechamento acima da média, o salário de ingresso no Vale da Eletrônica ficou em R$ 459,17. Menos de um salário mínimo. Esse valor depois foi reajustado automaticamente para R$ 465,00.
No início das negociações, o Sindicato lutou por um salário de ingresso de R$ 540,00 e pela implantação de planos de cargos e salários. Hoje, nenhuma empresa do Vale da Eletrônica tem um plano de carreira para os trabalhadores.
A justificativa do setor patronal para o baixo salário é a falta de qualificação da mão de obra. Para o Sindicato isso não é verdade e a explicação é simples. Em Santa Rita do Sapucaí existem centros de formação como: Senai e CVT, escolas como a ETE (1ª escola técnica de eletrônica da América Latina) e ainda Faculdade de Administração e Informática além do INATEL (Instituto Nacional de Telecomunicações).
Em uma rápida análise aumentar as exportações, como quer os empresários com o escritório em Montevidéu, também significa aumento de produção que por sua vez deveria acarretar em melhores salários. Essa não é a postura que o Sindmetsrs percebe nos empresários de Santa Rita do Sapucaí. Ao contrário, a cada dia o Sindicato tem que lutar para impedir que o trabalhador seja massacrado em seus direitos assegurados pela Lei trabalhista.
Exemplos desse desrespeito são empresas, com prêmios nacionais, que não fazem pagamentos de PLR com a desculpa de que não faturaram durante o ano. Outras, não oferecem creches para que as trabalhadoras possam deixar seus filhos. Ainda há casos de trabalhador que em um prazo de 10 anos só recebeu aumento salarial proveniente da Convenção Coletiva.
O Sindicato é a favor de aumentar as exportações, porque gera mais empregos. Mas também lutamos e não abrimos mão do Trabalho Decente, da redução da jornada de trabalho sem reduzir salários, qualidade de vida do trabalhador e ampliação dos benefícios para os trabalhadores.
Maria Rosângela Lopes, é presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santa Rita Sapucaí